Título: Uma alternativa para o sistema aéreo brasileiro
Autor: Andrade, Robson Braga de
Fonte: Valor Econômico, 31/07/2007, Opinião, p. A10

A determinação do governo federal de reorganizar a malha aérea nacional oferece ao país uma excelente oportunidade para finalmente descentralizar e racionalizar o sistema, ao criar novos pólos de distribuição de passageiros em outras regiões. Nesse sentido, o Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na grande Belo Horizonte, se consolida como uma das mais eficientes opções disponíveis tanto por razões geográficas quanto econômicas, com capacidade para assumir o papel de um hub importante para vôos nacionais e internacionais.

A primeira grande vantagem de Confins é ter a possibilidade de assumir imediatamente boa parte do fluxo de vôos e passageiros que já não poderão mais utilizar o Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, integrando a nova malha que terá de ser desenhada. A capacidade instalada atual de Confins é da ordem de 5 milhões de passageiros/ano, com uma ociosidade estimada em 20%, já efetuada a transferência dos vôos comerciais que antes utilizavam o Aeroporto da Pampulha.

A previsão é de que o movimento de pousos e decolagens em Confins - da ordem de 164 por dia - pode ser bastante aumentado no curtíssimo prazo. A capacidade de absorção de carga do aeroporto, hoje de 40.000 toneladas por ano, também tem ociosidade de cerca de 30%.

Além disso, Confins oferece essa possibilidade com altos níveis de segurança. Diferentemente de boa parte dos terminais das principais capitais brasileiras, o aeroporto não se encontra em zona urbana e possui pista de 3.000 metros, com capacidade para receber aeronaves de grande porte. As condições meteorológicas naquela região são excelentes, o que faz com que o aeroporto raramente tenha suas operações suspensas.

Do ponto de vista do aumento da racionalidade do sistema aéreo brasileiro, é importante destacar que o aeroporto tem localização privilegiada. Em termos regionais, encontra-se em posição quase geodésica em relação às regiões Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste, o que permite sua alimentação por rotas diversas e podendo reduzir o tempo de viagem para passageiros de várias partes do país. Confins tem a vocação para se transformar em um grande ponto de ligação do Norte e do Nordeste com o Sul e o Sudeste do país, bem como uma ligação Centro-Oeste-Leste.

-------------------------------------------------------------------------------- O aeroporto de Confins não se encontra em zona urbana e possui pista de 3.000 metros, podendo receber aeronaves de grande porte --------------------------------------------------------------------------------

O terminal está ligado a Belo Horizonte pela recém construída Linha Verde, de rápida velocidade, e possui fácil acesso à maioria das principais rodovias e ferrovias do país, o que permitiria ligações modais com outros tipos de transportes e destinos.

No momento em que se discute a construção de um quarto aeroporto na região da grande São Paulo, com possíveis gastos de R$ 5 bilhões e alguns anos para realização das obras, não se deve descartar a opção Confins. Do ponto de vista de sua capacidade de receber vôos e passageiros, o aeroporto pode ter sua capacidade ampliada para nove milhões de passageiros/ano em prazo curto. Essa expansão requer investimento da ordem de R$ 200 milhões porque não há necessidade de nova pista. Com as restrições fiscais enfrentadas pelo governo federal, parece claro que alternativas mais viáveis do ponto de vista econômico precisam ser consideradas, principalmente se estas trouxerem benefícios adicionais de descentralização do sistema e de estímulo ao desenvolvimento de novas regiões. Vale lembrar que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) prevê um total de R$ 3 bilhões em investimentos para aeroportos no período entre 2007 e 2010.

A opção de se expandir a capacidade de Confins oferece este nível de economicidade e racionalidade porque, desde a construção do terminal, na década de 80, foi prevista sua duplicação, que poderia ser feita a custos mais baixos, comparados com outros locais, tendo em vista a disponibilidade de terrenos, adquiríveis a preços favoráveis ou facilmente desapropriáveis. As condições daquela região permitiriam ainda a expansão de áreas de escape e espaço para serviços.

Por fim, gostaria de ressaltar a importância das ações e investimentos públicos a serem feitos no sentido de estimular o desenvolvimento regional, que trará impacto positivo para o país como um todo.

O Aeroporto Internacional Tancredo Neves, por todas as razões aqui apresentadas, tem o potencial de oferecer uma alternativa imediata para os problemas do sistema aéreo brasileiro. Mais do que isso, Confins apresenta todas as condições para se transformar num ponto estratégico permanente para o País. Trata-se, sem sombra de dúvida, de uma alternativa viável e favorável para o Brasil no curto e no longo prazo e precisa ser considerada desta forma pelas autoridades responsáveis.

Robson Braga de Andrade é presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).