Título: Endividamento é baixo, diz pesquisa
Autor: Vieira, Catherine
Fonte: Valor Econômico, 31/07/2007, Finanças, p. C7

Ainda há espaço para expansão do crédito, sobretudo nas camadas da mais baixa renda da população. É o que mostra pesquisa encomendada pela Fecomércio-RJ ao Instituto Ipsos: de mil pessoas ouvidas no fim de maio em 70 cidades de nove regiões metropolitanas, 61% afirmam que não estão pagando financiamentos, mas quando se observa apenas o grupo com renda de até R$ 1 mil, o percentual aumenta para 66%. Ou seja, apenas pouco mais de 30% das pessoas de renda mais baixa estão pagando empréstimos no momento.

Segundo o presidente da Fecomércio-RJ, Orlando Diniz, a instituição costuma contratar pesquisas para observar onde estão os potenciais e gargalos para que oportunidades possam ser mais bem exploradas. "Essa pesquisa, feita em âmbito nacional, mostra um potencial para expansão do crédito, principalmente para famílias de baixa renda", diz.

Para o executivo, o juro em queda deve contribuir elevar o número e o montante de empréstimos feitos e defende também o cadastro positivo. "Vai ser uma grande contribuição também nesse sentido".

Na visão da Fecomércio-RJ, os dados da pesquisa mostram há um grande espaço para que bancos e financeiras sigam um caminho que já vem sendo traçado por redes de varejo, que é o de focar os clientes da baixa renda.

Os dados mostram que 55% das pessoas que estão pagando financiamentos tomaram o crédito direto na loja. Na faixa de renda até R$ 1 mil, o percentual sobe para 62%. Também o empréstimo pessoal é tomado em lojas por 4% do total, chegando a 5% entre os integrantes da baixa renda.

De acordo com os entrevistados, o principal motivo de escolha do tipo de crédito foi a rapidez na aprovação (41%) seguido pelo prazo do parcelamento (26%) e a taxa de juro (22%). O valor das parcelas a serem pagas foi mencionado por 16% dos entrevistados, mas na faixa de renda mais baixa esse percentual cresce para 21%, sendo que nessa faixa apenas 14% optam pela menor taxa de juro.

O motivo para tomar o crédito ainda é bastante focado nos bens de consumo como compra de eletrodoméstico - 30% na renda abaixo de R$ 1 mil e 24% para a faixa acima desse valor - e itens de vestuário - 20% na faixa de renda menor e 24% na mais alta. A compra de imóvel motiva apenas 3% dos financiamentos. A tomada de crédito para pagar dívidas ainda aparece com percentual alto, de 18% em média, sendo que entre os que ganham acima de R$ 1 mil o percentual é de 20%.

Em dois itens a diferença entre a baixa renda e os de maior poder aquisitivo se acentuam. Enquanto 9% das famílias que ganham até R$ 1 mil tomam crédito para usar na reforma da casa, apenas 4% com renda acima de R$ 1 mil fazem empréstimos com o mesmo fim. Por outro lado, 18% das pessoas no segmento de renda maior usam crédito para comprar veículo, o que só ocorre com 2% da baixa renda.

A pesquisa sugere que os brasileiros podem estar mais propensos a se endividar do que a poupar. Embora 41% tenham declarado que só compram à vista, 34% já tomaram empréstimo, embora não tenham dívida no momento. Apenas 4% dizem dispensar o financiamento e guardar dinheiro para comprar à vista. Só 1% poupa para dar como entrada.

O economista-chefe da Febraban, Nicola Tingas, observa que a economia brasileira ainda está amadurecendo. "Ainda há pouca cultura de poupar e o crédito ainda está focado em compras mais imediatas e não envolve tanto planejamento de longo prazo". Para ele, a redução de juros, o aumento da renda e do emprego formal e a inflação menor também ajudam.

Segundo ele, por um fator cultural, as classes De E ainda estão mais ligadas às redes de varejo mesmo na hora de tomar crédito. Mas avalia que os bancos e financeiras já vêm investindo na busca desses novos clientes. "Até porque as grandes empresas têm cada vez mais acessando o mercado de capitais; então os bancos partem para outros nichos", diz.