Título: Investimento em infra-estrutura é insuficiente, diz executiva
Autor: Bautzer, Tatiana
Fonte: Valor Econômico, 01/08/2007, Brasil, p. A3

O acesso das empresas brasileiras ao mercado de capitais internacional é o que fará diferença na solução dos problemas de infra-estrutura, acredita a presidente do Conselho das Americas, Susan Segal. A necessidade de mais investimentos para acelerar o crescimento econômico é diagnosticada há anos, mas o investimento privado e público continua insuficiente.

Para a executiva, as crises financeiras que atingiram a América Latina desde os anos 90 impediram mais investimento privado em infra-estrutura, mas o entusiasmo atual dos mercados globais com o Brasil mudará este cenário. Susan lembra que o Brasil só teve número menor de empresas abrindo capital neste ano que os EUA.

Susan está no Brasil para eventos organizados pelo Conselho em São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro. Além de uma conferência sobre estratégias para crescimento a longo prazo do país, em São Paulo, os empresários americanos e brasileiros terão discussões sobre direitos de propriedade intelectual e energia com representantes dos ministérios das Minas e Energia e Desenvolvimento. A comitiva teve dificuldades para marcar as viagens aéreas entre as cidades.

"Ouvi hoje de um executivo que a empresa tinha um equipamento de videoconferência, que começou a ser usado esta semana, porque os atrasos estão extraordinários. Isso precisa ser resolvido", diz Susan, para quem problemas de tráfego aéreo não são restritos ao Brasil.

Conta que passou uma noite inteira num aeroporto na Bolívia, e levou mais de 12 horas para viajar da Guatemala para Cartagena (Colômbia), que poderia ser muito mais rápida se houvesse vôos diretos. "Acho que você vê esse problema de maneira mais aguda no Brasil por causa do acidente, mas é um problema generalizado na América Latina, que cria dificuldades para a integração e é um dos gargalos para maior crescimento econômico."

Susan acredita que só nos últimos anos países como Brasil, Chile, México e Peru começaram a ter acesso a financiamentos de longo prazo com taxas de juros baixas, condições indispensáveis para o financiamento de investimentos privados em infra-estrutura. "Hoje também há muito mais confiança do investidor nos governos e ambiente econômico destes países."

Para a executiva, que antes de dirigir o Conselho das Américas trabalhava no braço de private equity do banco J.P. Morgan, a recente turbulência nos mercados internacionais dessa vez terá um efeito mais brando para mercados emergentes latino-americanos. "Pode ser que parte da liquidez seque para projetos e empresas de maior risco, mas a situação dos países é hoje muito diferente", diz.

Susan concorda que a atual taxa de câmbio "desafia a competitividade de alguns setores", mas acha que não há muito a fazer para atenuar a valorização do real. "O país terá que focar em setores que são competitivos a longo prazo, setores onde há inovação, e subir um pouco na curva de valor dos produtos", no caso dos investimentos voltados à exportação.

A passagem de taxas de crescimento do PIB entre 4 e 5% para 6 a 7%, segundo ela, dependerá de reformas que melhorem o ambiente de negócios, principalmente para pequenas empresas, as maiores geradoras de emprego. Nos últimos dez anos, 80% dos novos empregos foram gerados nos EUA por pequenas e médias companhias.