Título: Responsabilidade socioambiental
Autor: Skaf, Paulo
Fonte: Valor Econômico, 01/08/2007, Opinião, p. A12

Desenvolvimento sustentável é o termo que melhor define os fatores condicionantes à longevidade do ser humano numa civilização mais próspera e justa. O futuro viável depende da soma da preservação ambiental e dos recursos naturais e erradicação da miséria. Tal desafio exige análise conjunta de documentos de distintos organismos da ONU. O primeiro é o estudo do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), divulgado em 27 de junho, indicando que o mundo terá, em 2050, nove bilhões de habitantes (2,5 bilhões a mais do que hoje) e que, já em 2008, pela primeira vez, haverá mais gente vivendo nas cidades do que no campo. Isto significará, na América Latina, 200 milhões de moradores urbanos adicionais até 2030, um crescimento de 50% em relação a 2007.

Os outros documentos são a segunda e terceira partes do relatório "Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade", divulgados, respectivamente, em 6 de abril e 4 de maio últimos, pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Sua síntese é a de que, caso não se estanque imediatamente a degradação ambiental, bem como, as causas das mudanças climáticas e não se invistam 3% do PIB global em recuperação, 3,2 bilhões de pessoas enfrentarão severa escassez de água e 600 milhões passarão fome, até 2080. Serão vítimas da seca e salinização do solo. A cada ano, entre dois e sete milhões sofrerão com inundações.

O cruzamento das estatísticas corrobora a tese de que o combate à miséria e à devastação ambiental deve ser tratado de modo coeso, sob a ótica da sobrevivência. Assim, é preocupante constatar que economias poderosas resistem a acordos voltados a mitigar o aquecimento terrestre, que outras não têm crescimento econômico suficiente para reduzir os níveis de miséria e, ainda, algumas sequer distribuem renda por meio do trabalho, pois transformam o pagamento de salários indignos em um esdrúxulo diferencial competitivo.

Políticas públicas nacionais e a diplomacia internacional terão de solucionar os impasses, vencendo divergências, inclusive na Rodada Doha, promovendo e viabilizando acordos multilaterais, como o Protocolo de Quioto, e intercâmbios bilaterais entre nações. Porém, enquanto governos buscam o entendimento, a sociedade não pode cruzar os braços. São necessárias respostas urgentes, como busca a indústria paulista com a realização, de 2 a 4 de agosto, no Parque Ibirapuera, em São Paulo, da Mostra Socioambiental do Sistema Fiesp e do Congresso "Desenvolvimento Sustentável - Oportunidades da Nova Economia". Objetivo é estimular a cidadania empresarial justamente com aquele olhar mais amplo, integrado e holístico do qual depende o futuro da humanidade.

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Também é meta contribuir para aprimorar a legislação nas áreas de gestão de saúde e qualidade de vida, incentivos fiscais, regulamentação de leis e regras para operacionalizar a linha de crédito social do BNDES. Empresas apresentarão suas boas experiências na mostra e a programação deverá culminar com elaboração de documento-proposta na área socioambiental, a ser entregue às autoridades.

Esses eventos tiveram, em sua concepção, forte estratégia participativa. Foram desenvolvidos a partir de consulta a mais de 70 empresas. São organizações estimuladas a demonstrar o que vêm fazendo nas áreas socioambientais. E não se trata apenas de marketing social. O intuito é contribuir para que programas no âmbito do Terceiro Setor sejam multiplicados, alcançando cada vez mais brasileiros. Também é preciso demonstrar que a melhoria do quadro social no país, recentemente apontada por respeitados organismos internacionais, não é fruto apenas dos programas do governo, mas também da mobilização dos setores produtivos.

Os eventos também demonstram que as ações de responsabilidade social da indústria paulista não se limitam ao já abrangente trabalho do Sesi-SP na educação (125 mil alunos no Ensino Fundamental e, agora, também no Médio), saúde, cultura, esportes e lazer. Tampouco, restringem-se à cerca de um milhão de matrículas anuais no Senai-SP, no qual se formam trabalhadores qualificados para a indústria. A Fiesp atua com força e amplitude na área ambiental, assessorando sindicatos e empresas no cumprimento dos requisitos da produção limpa, organizando anualmente a Semana do Meio Ambiente e o Prêmio Fiesp de Conservação e Reúso da Água. A meta é elevar a indústria paulista à excelência nessa área.

O Comitê de Responsabilidade Social da entidade tem contribuído para que mais indústrias realizem programas nas áreas da saúde, educação e qualidade de vida. Há ações macro - como o acordo a ser assinado em breve com o Ministério do Desenvolvimento Social, para incremento do programa Fome Zero - e, ao mesmo tempo, a mobilização dos sindicatos e parque empresarial. Todo esse trabalho estará à mostra no evento do Ibirapuera. O exercício da responsabilidade social, além de ajudar as indústrias paulistas a ascender ao status de companhias de padrão mundial e, portanto, mais competitivas, irá alinhá-las às organizações de boa vontade na luta pela vida.

Paulo Skaf é presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).