Título: Lula levará discurso da fome para Davos
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 20/01/2005, Brasil, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva será uma das "fortes vozes" dos países em desenvolvimento, junto com alguns representantes africanos, no Fórum Mundial de Economia, que será realizado de quarta-feira a domingo da semana que vem em Davos, nos Alpes Suíços. Lula fará uma "mensagem especial" de 30 minutos na sexta-feira, enfocando, entre outros assuntos, seu programa contra a fome. No dia seguinte, encontrará entre 80 e 100 empresários convidados pelo governo brasileiro, à margem do fórum. O exército suíço está mobilizando 5.500 soldados, 800 a mais que no ano passado, para assegurar a segurança dos 2.500 participantes de 96 países. A presença de Lula coincidirá com manifestações já autorizadas em Davos. Desta vez, os organizadores do fórum não confirmam conexão com o encontro alternativo de Porto Alegre. Para os quatro dias e meio de Davos, está prevista a participação de 25 chefes de Estado ou de governo, 70 ministros, muitos políticos, 26 líderes religiosos e 50 diretores de organizações não-governamentais, mais de 300 jornalistas, além de 500 presidentes de grandes companhias. Metade dos participantes são empresários - e são eles que pagam a conta: US$ 37 mil (inclui a taxa anual de membro, obrigatória) por cabeça. "Somos mais baratos do que muitas outras conferências de negócios", assegura o diretor-executivo Peter Torreele. Em Davos, executivo paga, autoridade governamental é convidada e alguns acadêmicos recebem para iluminar as 220 sessões. Jornalistas são divididos em duas categorias: os que têm o crachá laranja vão para trabalhar (e têm acesso restrito); os que têm o crachá branco são convidados para também participar de debates. Instituição privada com um nome bem bolado que organiza encontros no mundo inteiro, o Fórum Mundial de Economia tem ambição de "esboçar" a agenda internacional. Klaus Schwab, seu fundador e presidente, coloca o encontro deste ano no contexto de um "momento crucial para o mundo e seus líderes" com novos "começos": nova Comissão Européia, novo mandato do presidente americano George W. Bush, novo presidente da Autoridade Palestina, as eleições no Iraque no fim do mês, novo presidente na Ucrânia. Este ano, um dos fatos marcantes será a forte presença chinesa. Uma das indagações do fórum é qual o impacto no mapa do poder global com o crescente avanço asiático. Outro tema é mudança climática. Como sempre, Davos mistura debatedores de diferentes áreas. A atriz Angelina Jolie vai falar da nova onda de solidariedade global no rastro do tsunami na Ásia. Bono Vox, do grupo de rock U2, não perderá a chance de manifestar-se contra a pobreza. A historicamente modesta presença brasileira está mudando. O ex-ministro Pedro Malan evitava ir a Davos porque a achava "um circo" onde o governo FHC tinha mais a perder do que a ganhar. Já o atual governo parece mais atraído pela Montanha Mágica, como Davos foi celebrizada pela pena do alemão Thomas Mann. A recíproca é verdadeira. "O presidente Lula vem pela segunda vez e devo dizer que aqui somos todos fãs dele", afirma um entusiasmado diretor do fórum, Frederic Sicre. Este ano, do lado oficial, o ministro da Casa Civil, José Dirceu, tem lugar marcado num jantar latino-americano. Celso Amorim, das Relações Exteriores, vai a uma miniconferência ministerial de comércio que durará cinco horas para terminar com tom otimista para as negociações da OMC prosseguirem. Luiz Fernando Furlan, do Desenvolvimento, está previsto para um debate sobre os rumos da América Latina, num dos poucos momentos em que se falará sobre a região. Indagado sobre o que considera importante no fórum, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse que ali "não se toma decisão, se discute". E arrematou quase sonhador: "Quando quebrei a perna, fizemos uma reunião com Palocci e Anne Krueger (diretora do Fundo Monetário Internacional) no quarto do hospital, tendo a neve como pano de fundo."