Título: Virgílio oficializa candidatura e diz que é o melhor para a Câmara
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 20/01/2005, Política, p. A6

Ignorando apelos, ponderações e sobretudo alertas de seu próprio partido e até mesmo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) oficializou ontem sua candidatura avulsa à presidência da Câmara. O ato de lançamento contou com a presença de 58 deputados. O único petista presente foi o também mineiro Ivo José. Toda a bancada do PT permanece unida apoiando o candidato oficial, o paulista Luiz Eduardo Greenhalgh. A candidatura do mineiro divide a base aliada, irrita a cúpula petista e é no mínimo inconveniente aos olhos do Palácio do Planalto. "Vamos botá-lo no sal e deixar desidratando aos poucos. Não discutiremos nenhuma punição durante o processo eleitoral", contou um petista muito próximo ao governo. Virgílio, que no dia 22 de dezembro divulgou uma carta aos colegas de bancada comunicando que estava desistindo da disputa em nome do consenso partidário, disse ontem que não está afrontando o PT nem o governo com a candidatura avulsa. Alegou ainda que foi "forçado" a desistir anteriormente da disputa interna no partido, mas garantiu que não está movido por rancor ou agindo com o fígado. "Não é uma candidatura contra ninguém. É uma resposta necessária aos partidos, para que sejam mais abertos e respeitem mais a democracia interna", disse, sinalizando que houve interferência do campo majoritário do PT e do governo para que sua candidatura não prosperasse. O parlamentar acredita que seu nome é o melhor para o PT, a Câmara e o governo, pois surgiu a partir de uma articulação de deputados da base aliada. O nome de Greenhalgh não foi digerido por vários parlamentares. Virgílio antecipou qual será sua argumentação para se livrar de uma eventual punição do PT: "Não estou ferindo nenhuma disposição do PT. O PT é o campeão em candidaturas avulsas. Nunca ninguém do PT apresentou um dispositivo para revogar a possibilidade de candidatura avulsa. E nem há qualquer resolução interna coibindo seus quadros de lançar candidatura avulsa". Ele considera ainda que sua possível vitória vai melhorar o diálogo do governo com o Congresso, que, na sua avaliação, não tem ouvido os aliados. Perguntado sobre como ficaria sua relação com o governo e especialmente com Lula após o ato de insubordinação, o mineiro garantiu que continuará a ter uma amizade fraternal com o presidente. "O Lula é que deve ser entrevistado sobre o meu relacionamento com ele (...) Sendo presidente da Câmara, haverá uma relação política institucional com o governo", disse. Apoiado basicamente por parlamentares do chamado baixo clero - que não têm participação ativa nas articulações políticas diárias do Congresso -, Virgílio fez discurso tentando dar o máximo de credibilidade aos amigos. As pressões políticas do baixo clero estão relacionadas notadamente a melhorias de privilégios (verbas e salários) e liberações de emendas. O mineiro disse que pertence ao "novo clero", uma nova classe de políticos que fala "de igual para igual com governador e ministro", e "que não aceita receber outras ordens que não a ordem sagrada que emana das urnas". Ele prometeu, por fim, fazer uma reforma administrativa, reduzindo gastos. Como exemplo, considerou um exagero a compra de tanta água mineral. Sugeriu que todos devem consumir água potável.