Título: Bush assume com projetos polêmicos para a economia
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 20/01/2005, Internacional, p. A7

Numa suntuosa cerimônia de posse, o presidente George Bush assume seu segundo mandato com uma meta ambiciosa: aprovar o que espera que seja lembrado como o "New Deal" conservador. Referências ao mítico presidente Franklin Delano Roosevelt, que costurou o "New Deal" em reação à Grande Depressão que afundava a economia mundial na década de 30, já estão explícitas em anúncios na televisão a favor da reforma da Previdência. O texto de um dos anúncios diz que "foi preciso coragem para criar o New Deal e a Previdência Social. Agora é preciso coragem para reformá-la". Governador de Nova York durante o crash da Bolsa de 1929, Roosevelt criou uma comissão para ajudar os desempregados e idosos do Estado atingidos pela Depressão. Ganhou as eleições presidenciais em 1932 e seu primeiro ato foi lidar com a crise bancária, criando a garantia pública dos depósitos. Principal executor das teorias econômicas keynesianas, o governo de Roosevelt criou frentes de trabalho e agências federais para reduzir o desemprego. Estão em vigor até hoje leis criadas para regular o mercado de capitais (a Securities and Exchange Comission, modelo para a brasileira CVM, surgiu em 1934) e o mercado imobiliário. A Previdência foi criada em 1935 e, apesar da oposição do empresariado, Roosevelt reelegeu-se facilmente em 1936. A referência a Roosevelt é irônica porque o suposto "New Deal" conservador fortalecerá as políticas econômicas opostas às que nortearam Roosevelt. Bush pretende mudar não apenas a Previdência Social (Social Security), um símbolo do New Deal, mas todo o sistema tributário nacional. Associações conservadoras que advogam a redução de impostos acreditam que no segundo mandato de Bush, como no primeiro, haverá um corte de impostos por ano. Até agora, os cortes de impostos resultaram em menos taxação sobre camadas de maior poder aquisitivo e pessoas que não obtêm sua renda diretamente de salários, mas de rendimento de aplicações. Segundo reportagem recente da revista do "The New York Times", o objetivo dos cumulativos cortes de impostos é extinguir a totalmente impostos sobre poupança e investimento e manter por um período a taxação sobre a folha de pagamento. Mais tarde, o desconto em folha será substituído por um imposto de valor agregado (semelhante ao ICMS) aplicado a todas as mercadorias. Bush tem rebatido as críticas à invasão do Iraque e reforma previdenciária com o mesmo argumento, o de que ganhou nas urnas a aprovação tanto para a estratégia militar quanto para as pretendidas reformas econômicas. Mas no caso da Previdência, há resistências mesmo dentro do Partido Republicano. Senadores e deputados do partido temem ser punidos pelo eleitorado nas eleições de 2007 se aprovarem um plano que exija redução de aposentadorias. Ontem, a Casa Branca admitiu fazer mudanças no programa para garantir sua aprovação. A base da proposta do governo é criar contas individuais para trabalhadores jovens, com aplicação de recursos em ações e títulos e valor das aposentadorias determinado pelo rendimento dos investimentos. Apesar de minoria no Senado, os democratas ainda têm poder para rejeitar o projeto. Hoje a previdência americana é superávitária e só será deficitária em 2018, embora tenha um fundo com recursos suficientes para pagar as aposentadorias até 2042. A posse oficial é hoje, embora os eventos tenham começado já na terça-feira. De manhã, o presidente e a primeira-dama assistem a uma missa numa igreja próxima à Casa Branca. Numa cerimônia do lado de fora do prédio do Congresso (Capitólio), Bush fará o juramento e, depois de receber uma salva de tiros de canhão, vai discurso para a população. Depois do discurso, o presidente e a primeira-dama recebem dentro do Senado líderes políticos e convidados num almoço para 150 pessoas. O presidente passará tropas em revista no início da tarde e depois lidera o desfile de posse com mais de 11 mil integrantes, incluindo bandas de música e divisões militares. O cortejo sai do Congresso e vai até a Casa Branca. Haverá nove bailes oficiais de posse (o primeiro baile ocorreu ontem à noite), além de alguns extra-oficiais. Estão previstos também protestos. A maior parte ocorrerá durante o percurso do desfile, mas haverá um baile "contra a posse" hoje à noite. Bush não deve faltar ao baile do Estado do Texas, no qual os homens usarão black-tie com botas de cowboy. A profusão de festas custará US$ 40 milhões, financiados por doadores privados. Para atenuar as críticas à ostentação em tempo de guerra (atualmente mais de 100 mil soldados americanos estão no Iraque), Bush incluiu eventos com militares. Ontem, o presidente visitou os Arquivos Nacionais para ver o discurso original de posse de George Washington, de 1789. O discurso de hoje deve ser centrado no Iraque e no "poder da liberdade".