Título: Carital e Zircônia foram companhias operacionais, mas acabaram esvaziadas
Autor: Talita Moreira e Carolina Mandl
Fonte: Valor Econômico, 20/01/2005, Empresas &, p. B3

A Carital e sua controlada Zircônia tiveram atividades operacionais até o final dos anos 90, quando a Parmalat fez uma reestruturação societária no país. Depois disso, passaram a atuar essencialmente em complexas transações financeiras. Entender o caminho percorrido pelas duas empresas não é tarefa das mais fáceis. Como se não bastassem as alterações societárias, a Parmalat mudava com freqüência a razão social das subsidiárias brasileiras. E, para complicar mais um pouco, os novos nomes muitas vezes eram parecidos com os antigos. A Carital teve seis denominações anteriores, enquanto a Zircônia teve outros três nomes. Como resultado do processo de reorganização, em 1999, todos os ativos industriais do grupo foram concentrados na Parmalat Alimentos - que assumiu sua configuração atual. Carital e Zircônia, que haviam participado da série de aquisições feita pelo grupo italiano no Brasil, cederam seus ativos à Parmalat Alimentos. Daí em diante, passaram a ter como atividade principal a realização de complexas transações financeiras. A maioria delas era firmada com outras empresas da multinacional italiana. Em dezembro de 1999, a Carital fez uma cisão de seu capital, que era de R$ 496,4 milhões. Quase todo esse valor foi vertido para a Parmalat Participações do Brasil, que estava sendo criada naquele momento e passava a controlar a Parmalat Alimentos. Na Carital, restaram apenas R$ 3,3 milhões após esse processo. Ficaram nas mãos da empresa os direitos sobre algumas marcas e jogadores de futebol, remanescentes da época em que a Parmalat patrocinava o Palmeiras e o Paulista de Jundiaí. Paralelamente à cisão, houve uma mudança societária na Carital. A Parmalat SpA, a Newcivil (também ligada à multinacional), e o presidente do grupo no país, Gianni Grisendi, deixaram de figurar entre os quotistas da empresa. O controle passou às mãos da "off shore" Carital Distributors, com sede nas Antilhas Holandesas. Oficialmente, deixavam de existir vínculos entre a Carital e a Parmalat. No entanto, fontes ligadas à empresa e uma série de documentos indicam que continuou a haver ligações entre elas. Carital e Zircônia atuavam como instrumentos financeiros da multinacional. Documentos disponíveis na Junta Comercial do Estado de São Paulo mostram diversas operações de tomada e concessão de empréstimos entre elas e outras empresas do grupo. E, mesmo depois da suposta mudança de donos, a Carital e a Zircônia mantiveram suas sedes num prédio vizinho ao que a Parmalat ocupava, na Zona Sul da cidade de São Paulo. (TM e CM)