Título: Emprego cresce menos nos bancos do que na indústria
Autor: Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 06/08/2007, Brasil, p. A4

Apesar dos bons resultados apresentados pelo setor financeiro nos últimos anos, o emprego para os bancários cresceu menos do que em ramos industriais, como metalúrgicos e químicos, e também ficou abaixo da média geral do país. As três categorias de trabalhadores são muito bem organizadas, mas, no caso dos bancários, isso não tem sido suficiente para evitar perda de empregos e de poder de compra.

Entre 2003 e 2006, segundo dados do Ministério do Trabalho e projeções da LCA Consultores, a ocupação com carteira assinada avançou 20,7% no Brasil. No ramo financeiro, a alta foi menor, de 16%. Isso significou a geração de 88,4 mil vagas. Em termos absolutos foi um número um pouco maior do que o verificado no ramo químico, onde foram abertos 83,7 mil postos de trabalho. Esse setor, no entanto, tem um estoque de trabalhadores menor: 418,8 mil, diante de 648,2 mil dos bancos. "Este segmento industrial foi muito favorecido pelo expansão da produção de petróleo e de combustíveis", lembra Fábio Romão, economista da LCA que estimou os dados para 2006.

Ao mesmo tempo, a contratação de pessoas que trabalham no ramo financeiro, mas não são bancárias, como os promotores de crédito das financeiras, camufla a expansão do emprego no setor. De outro lado, a informatização segue avançando a passos largos e a figura do bancário tradicional tende a ser cada vez menos presente.

Na categoria que reúne os trabalhadores que realizam funções de intermediação financeira -os bancários tradicionais - e exclui atividade auxilares, seguros e previdência, o crescimento do emprego também foi menor do que a média do país e ficou em 13%. A ocupação que ajudou o ramo financeiro foi justamente a de atividades auxiliares da intermediação financeira, com expansão de 47% no emprego.

A avaliação de Sergio Vale, economista da MB Associados, é a de que o setor bancário já é relativamente inchado. "Há muita gente trabalhando nas áreas clássicas dos bancos. O espaço que existe agora é para o crédito, que têm crescido muito e onde é necessário mais mão-de-obra", diz Vale.

É a mesma análise de quem acompanha de perto o dia-a-dia da atividade. Luiz Cláudio Marcolino, presidente do Sindicato dos Bancários do Estado de São Paulo, diz que existe um movimento de substituição de mão-de-obra no setor. O sindicalista conta que em grandes instituições, como o Banco do Brasil, os trabalhadores mais antigos estão sendo substituídos por mais novos. Recentemente, o banco anunciou uma reestruturação no seu quadro de funcionários.

"Cerca de 5 mil vão sair. Boa parte deles está lá há muito tempo", diz Marcolino. O salário médio desses trabalhadores, segundo ele, está em torno de R$ 4 mil. Os novos contratados deverão receber o piso salarial, entre R$ 1,2 mil e R$ 1,5 mil.

Por outro lado, cresce a contratação dos promotores de vendas e de crédito, que nem sempre são enquadrados na categoria dos bancários. O presidente do sindicato calcula que entre 40% a 50% das pessoas que trabalham em financeiras e em outras atividades ligadas ao crédito não são contratadas como bancários.

O resultado disso é um rendimento médio menor para a categoria. Pelos dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério do Trabalho, cuja edição mais recente é de 2005, o salário médio dos trabalhadores do ramo financeiro - que engloba além dos bancários tradicionais, trabalhadores de atividades auxiliares e em atividades de seguro e previdência - caiu 1,1% entre 2003 e 2005 em termos reais. Ao mesmo tempo, o rendimento médio do total das ocupações subiu 4,4% no período. Em análise mais longa, que compara 2000 com 2005, os resultados são ainda menos animadores para os bancários: queda de 11% no salário, ante recuo de 4% no rendimento geral.

A situação é oposta à vivida pela duas categorias tradicionais da indústria: químicos e metalúrgicos. Embalados pela forte expansão das exportações nos primeiros anos do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e mais recentemente pelo aquecimento do mercado interno, viram o nível de emprego aumentar e atingir níveis recordes.

O ramo metalúrgico teve um incremento de 26% na ocupação entre 2003 e 2006. Esse desempenho foi encabeçado pelos setores de equipamentos de informática (79,8%), veículos automotores (24,2%) e outros equipamentos de transporte (43,7%). A alta do emprego foi acompanhada pelo mesmo movimento no rendimento médio, que ficou 8,7% maior no período de 2003 a 2005.

"As exportações deram uma alavancada muito grande nas empresas do setor. Mesmo com a valorização cambial, elas continuam a representar uma fatia importante da produção das empresas metalúrgicas", avalia Rafael Marques, secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Até mesmo a Volkswagen, que planejava no ano passado demitir 3,6 mil funcionários, dispensou apenas metade desse número e está contratando mais 700 pessoas para a produção.

Para Romão, a indústria, seja ela química, metalúrgica ou alimentícia, tem tido um papel fundamental na geração de empregos do país. Com a forte expansão da demanda doméstica, a tendência é que esse movimento permaneça nos próximos meses.