Título: Setor teme processo de reestatização
Autor: Capela, Maurício e Balarin, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 06/08/2007, Empresas, p. B1

A estratégia da Petrobras para a petroquímica está sendo vista com receio por empresários e executivos do setor, que temem pela intensificação do conflito de interesses da estatal. Hoje, a Petrobras é a principal fornecedora de nafta, matéria-prima das centrais petroquímicas, além de ser a responsável pelo suprimento de gás da Rio Polímeros, único pólo do país à base desse insumo. Paralelamente, a estatal vem ampliando sua participação no bloco de controle dessas centrais e assumindo uma posição relevante nas companhias de segunda geração.

A Petrobras, por exemplo, tem 7% da Braskem, que lidera os pólos do Nordeste e do Sul e que é a rival natural da empresa que consolidará o pólo do Sudeste, em que a Petrobras acaba de assumir uma posição relevante com a aquisição da Suzano. Ao ser questionado sobre um possível conflito de interesses, o presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, admitiu que pode surgir uma situação problemática. "Mas nós teremos que desenvolver mecanismos para evitar isso", disse.

Desde o primeiro mandato do governo Lula, ainda sob a gestão do então presidente José Eduardo Dutra, a Petrobras vem insistindo que quer ter mais voz ativa no setor e que pretendia exercer uma função de minoritária relevante: participações na casa dos 40% em alguns casos, com a possibilidade de participar do conselho de administração. Uma grande defensora dessa estratégia é a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que é também presidente do conselho de administração da Petrobras.

A estratégia vem sendo interpretada por algumas fontes do setor e até por analistas de ações como um movimento reestatizante da petroquímica. Até porque, no caso da Suzano, a Petrobras terá controle sobre a companhia. "Receio que isso seja uma estatização do setor, porque a Petrobras terá participação nos dois grupos petroquímicos mais fortes do Brasil", diz um executivo.

Para o presidente do conselho do grupo Ultra, Paulo Cunha, o objetivo final da Petrobras nesse processo ainda não está claro, segundo declarações dadas pelo empresário à revista Conjuntura Econômica, da FGV, em julho - antes, portanto, da aquisição da Suzano. "A Petrobras (...) se afastou com a privatização e agora está retomando num padrão que ainda não está muito claro sobre qual é sua intenção final, definitiva, nesse processo. Teremos que aguardar um pouco para ver o que acontece. A Petrobras ficou muito grande, muito desproporcional ao resto da indústria no Brasil", disse Cunha. (RB e MC)