Título: Claro deverá usar fôlego comercial para compensar perda da Telemig
Autor: Moreira, Talita
Fonte: Valor Econômico, 06/08/2007, Empresas, p. B3

A derrota da Claro na disputa pelo controle das operadoras Telemig e Amazônia Celular deverá ter o efeito colateral de reavivar a agressividade comercial das empresas que atuam na telefonia móvel brasileira.

Com a Vivo levando a melhor nessa batalha, esvaíram-se as possibilidades de a mexicana América Móvil - dona da Claro - fazer aquisições em celular. Ao menos por enquanto. Com isso, resta à empresa aprofundar sua estratégia de vender celulares a preço baixo.

"A Claro vai ficar mais agressiva no início. As coisas tendem a piorar antes de melhorar", diz o analista Roger Oey, do Banif, fazendo referência a uma provável recrudescimento da política de subsídios das operadoras para atrair novos clientes e reter os atuais.

Do ponto de vista estratégico, o episódio da venda da Telemig e Amazônia representa novo revés para o empresário Carlos Slim, controlador da América Móvil em seus planos de expansão no Brasil. No fim de abril, o empresário mexicano viu dissipar-se a chance de comprar a TIM, quando a Telefónica entrou no bloco da Telecom Italia junto com um consórcio de instituições financeiras italianas.

Antes disso, Slim chegou a negociar a compra da TIM Brasil e da própria Telecom Italia.

No fim das contas, com a aquisição da Telemig e Amazônia Celular pela Vivo os espanhóis da Telefónica marcaram mais um ponto na disputa acirrada que travam com os mexicanos da América Móvil/Telmex (braço de telefonia fixa do conglomerado de Slim, o homem mais rico do mundo). A Telefónica compartilha o controle da Vivo com a Portugal Telecom, cuja participação vem tentando comprar há anos.

Na quinta-feira, a Vivo anunciou a compra dos controles da Telemig e da Amazônia Celular, que pertenciam a fundos e pensão e ao Citigroup, por R$ 1,2 bilhão. Derrotou por pouco a oferta que havia sido feita pela Claro, a única outra empresa a chegar ao final do processo de venda. A Oi (marca da Telemar) analisou os ativos, mas desistiu de concorrer a eles.

Para a Vivo, comprar a Telemig resolve um de seus problemas mais graves - a ausência de cobertura em Minas Gerais. A empresa também ganha tempo para reconquistar clientes e evitar uma perda de liderança no mercado que se mostrava iminente.

No caso dos espanhóis, trata-se de mais uma carta para jogar o jogo da consolidação do setor de telecomunicações brasileiro - um processo que já começou, mas deve se intensificar. Agora, a Telefónica controla a Telesp, concessionária paulista de telefonia fixa, e está no bloco majoritário da Vivo. Colocou, indiretamente, um pé na Telemig e na Amazônia. Já tem outro na TIM. No ano passado, assinou acordo para ficar com parte dos ativos da TVA, empresa de TV paga, internet e telefonia. Os três últimos negócios ainda dependem da aprovação da Anatel e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), mas revelam a disposição do grupo de ter posição dominante no país.

"A compra da Telemig pela Vivo não pode ser enxergada isoladamente. É um movimento maior da Telefónica", ressalta o analista Valder Nogueira, do Santander.

Perder a disputa pela Telemig e Amazônia não foi considerado o pior dos mundos para a Claro. Segundo fontes próximas à empresa, a avaliação dos administradores é a de que a operadora está num momento bom - com crescimento intenso e melhora no desempenho financeiro.

Em teleconferência com analistas na semana retrasada, o presidente da América Móvil, Daniel Hajj, já havia dado o recado esse recado: a compra das operadoras não era fundamental para o grupo competir no Brasil, disse.

Com as vias travadas para aquisições na telefonia móvel, os mexicanos consideram natural prosseguir, pelo tempo que for necessário, com sua estratégia comercial agressiva - que não raramente inclui ofertas de celulares a R$ 1.

Internamente, executivos da operadora concluíram que alcançar a liderança no mercado continua sendo plausível, apesar da vantagem que a Vivo irá abrir somando as bases de clientes das duas empresas que comprou.

Isso porque a Claro vem crescendo em ritmo mais forte. No segundo trimestre, foi a operadora com maior volume de adições líquidas (novos assinantes menos desligamentos). Mesmo se fossem somados os números da Telemig e da Amazônia, a Vivo teria ficado abaixo no período (ver tabela acima).

Segundo interlocutor próximo ao grupo mexicano, a dianteira de pouco mais de oito pontos percentuais que a Vivo abre em relação à Claro após a compra da Telemig e da Amazônia é semelhante à diferença que havia entre elas em junho do ano passado - e que só diminuiu desde então.

Apesar dessa aparente tranqüilidade, os mexicanos deverão, a partir de agora, posicionar-se com mais firmeza nas discussões sobre a necessidade de mudanças nas regras do setor de telecomunicações no Brasil, segundo interpretação do analista do Santander.

"Espero mais agressividade dos mexicanos não só comercialmente, mas também nos estudos sobre a mudança das regras", diz Nogueira. Para ele, o mais provável é que a Telmex/América Móvil defenda mais incisivamente que eventuais alterações no marco regulatório sejam feitas de modo irrestrito, e não apenas para permitir uma fusão entre Oi e Brasil Telecom. Nesse caso, Slim teria a possibilidade de fazer oferta por alguma delas.

Além da empresa de celular, o grupo mexicano tem no Brasil o controle da Embratel e participação acionária na Net.

Procurada pelo Valor, a Claro não havia concedido entrevista até o fechamento desta edição.