Título: Azteca quer mercado desprezado
Autor: Mandl, Carolina
Fonte: Valor Econômico, 06/08/2007, Finanças, p. C1

O banco mexicano Azteca, do grupo Salinas, iniciará suas operações no Brasil ainda neste ano. A instituição, voltada para as classes C e D, escolheu o Norte e o Nordeste brasileiro para começar as atividades. Junto com o banco Azteca, o grupo Salinas traz ao Brasil a Elektra, maior varejista de eletrodomésticos latino-americana, com mais de mil lojas que vendem eletrônicos, linha branca e móveis. A entrada do banco no país visa a dar apoio ao principal negócio do grupo, as operações de varejo com a rede de lojas Elektra.

Desde 2001, a Elektra vinha tentando entrar no mercado brasileiro. Naquele ano, chegou a analisar a compra do Ponto Frio. Negociou também a aquisição da rede gaúcha de eletrodomésticos Colombo. Mais recentemente, surgiram rumores de que a Lojas Renner estaria sob a mira do grupo Salinas.

Depois das tentativas malsucedidas, desta vez a Elektra decidiu estrear no Brasil por meio da abertura de novas lojas. Em entrevista por telefone ao Valor, Luiz Niño de Rivera, vice-presidente do conselho de administração do Banco Azteca, afirmou que até o fim do próximo ano, serão abertas quatro lojas no Recife e outras quatro em Fortaleza. Para 2009, a previsão é de chegar a Belém.

Dentro de cada uma dessas unidades haverá também um balcão do Banco Azteca, que vai trabalhar principalmente com operações de crédito (cartões, financiamento e empréstimos pessoais) e contas bancárias voltadas para o público de baixo poder aquisitivo e sem comprovação de renda. Além disso, lojas do banco também serão abertas nas ruas, de forma independente das operações de varejo. Até 2008, serão oito em Pernambuco e no Ceará.

O que fez a Elektra se tornar a maior varejista no México foi justamente o fato de a empresa aliar num só negócio a venda de bens duráveis e as operações de crédito. No ano passado, segundo relatório da companhia para investidores, de cada quatro televisões vendidas no México, uma saiu das lojas Elektra. A família Salinas começou a usar esse sistema na década de 50, quando a rede varejista estava sendo criada.

Em 2002, ao perceber a importância das operações financeiras para o segmento de varejo, a Elektra decidiu criar o banco Azteca. Em quatro anos de atividade, a instituição encerrou 2006 com 15 milhões de clientes. Dos US$ 3,2 bilhões faturados pela Elektra no ano passado, quase a metade veio do lado financeiro.

"No México, ao contrário do Brasil, as operações de varejo e de crédito andam separadas. Agora é que as primeiras parcerias começam a surgir", afirma Rivera. E qual a vantagem, então, que a Elektra pode ter no Brasil em relação aos concorrentes, já que aqui as parcerias estão estabelecidas? A Taií, financeira do Itaú, por exemplo, tem acordos com Lojas Americanas e Pão de Açúcar. O Unibanco criou uma financeira com o Magazine Luiza.

Para Rivera, a oportunidade de sucesso no Brasil pode vir pela união de alguns fatores. O primeiro é o fato de a Elektra e sua subsidiária financeira, o Banco Azteca, terem escolhido as regiões Norte e Nordeste do Brasil para atuar. "Nem os bancos nem as grandes regiões varejistas brasileiras estão presentes nessas áreas. Por isso vimos uma oportunidade. Além disso, essas regiões crescerão bem mais que o resto do país", explicou Rivera. Algumas das grandes varejistas do país, como o Magazine Luiza, ainda não operam nem no Norte nem no Nordeste. Só no mês passado, por exemplo, o Ponto Frio anunciou sua chegada à Bahia.

Um outro ingrediente em que o grupo Salinas aposta é o foco exclusivo na baixa renda. Isso explica também a escolha pelos Estados do Norte e Nordeste. "Queremos atingir um público que os bancos e financeiras brasileiras ainda não pegam", disse o vice-presidente. A expectativa é que o financiamento médio ao consumo no Brasil fique em torno de US$ 250, e o empréstimo pessoal gire ao redor de US$ 700.

Rivera prefere não comentar nada sobre as taxas de juros que serão cobradas. Tampouco faz projeções sobre números de unidades que a Elektra terá no Brasil em cinco anos. "Minha bola de cristal não é capaz de chegar tão longe", afirmou.

Mas o crescimento do grupo mexicano no Brasil pode se acelerar. Isso porque Rivera não descarta que a Elektra venha a adquirir concorrentes no país. "Por enquanto, vamos abrir as lojas sozinhos, mas isso não impede que analisemos aquisições." Outro ponto que pode ajudar na expansão das atividades financeiras é a parceria com outras varejistas. Das mais de 1.400 unidades do banco Azteca, cerca de 350 vieram com a aliança com outras empresas.

No curto prazo, entretanto, a missão de Rivera é outra: encontrar um executivo brasileiro para tocar as novas operações.