Título: Mais crédito para as agroindústrias
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2005, Agronegócios, p. B10

O governo federal prepara a criação de um novo programa de investimento exclusivo para as agroindústrias. A nova linha, com recursos do BNDES, será anunciada no próximo Plano Agrícola e Pecuário, em junho. O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Ivan Wedekin, diz que a "Finame Agroindústria", como está sendo chamada, facilitará o acesso dessas empresas a crédito mais barato e ampliará os limites financiados, para fortalecê-las. Hoje, há apenas programas setoriais específicos destinados a agroindústrias. O Moderfrota, para a renovação da frota de máquinas, tem orçamento de R$ 5,5 bilhões. O Moderagro (recuperação de pastos) tem R$ 700 milhões e o Prodeagro (avicultura, suinocultura e floricultura), R$ 200 milhões. Um grupo de especialistas dos ministérios da Agricultura e da Fazenda, além do BNDES, trabalha para identificar todas as fontes de financiamento hoje disponíveis para a agroindústria e listar a carteira de créditos do segmento nas instituições de crédito. "Queremos criar um grande guarda-chuva de financiamento para o agronegócio para reduzir juros médios e viabilizar investimentos", diz Wedekin. O governo considera que produtores e cooperativas estão bem atendidos do ponto de vista de fontes de financiamento - apesar das limitações e restrições impostas pelo Orçamento da União. As agroindústrias, entretanto, precisariam de mais atenção em função de seu efeito multiplicador na economia rural. "Hoje, há produtores integrados que precisam de linhas de crédito com limites muito acima do permitido", diz o secretário. Conforme ele, uma grande agroindústria do Sul, com atuação no Centro-Oeste e em Minas Gerais, apresentou ao governo um plano de investimento de R$ 550 milhões até 2007, mas não consegue tirá-lo do papel por causa das limitações orçamentárias e da concentração do crédito em outras áreas. "Um produtor integrado precisa de R$ 2,5 milhões para viabilizar os investimentos, por exemplo, mas a regra atual só nos permite financiar até R$ 150 mil por beneficiário", revela Wedekin. Por isso, a nova linha do BNDES passaria a atender aos produtores integrados às agroindústrias. O novo programa do BNDES também buscará "turbinar" o Propflora, programa de investimento voltado a florestas comerciais, que não decolou. O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, tem negociado com o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, a transferência da administração das florestas plantadas do Ministério do Meio Ambiente para a Agricultura. Wedekin vê aí uma boa chance para avançar. "Podemos financiar indústrias de papel, celulose, móveis e reflorestamento". As mudanças estão concebidas no Sistema Privado de Financiamento do Agronegócio (PIPA), criado pela atual equipe da Agricultura para ampliar o financiamento ao setor por meio de novos instrumentos como os recém-lançados títulos CRA, CDCA e LCA. Nesse contexto, o governo lançará nos próximos meses a Agrinote, um papel para facilitar o acesso a capital de giro e induzir investimentos em infra-estrutura. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) finaliza os detalhes da nota comercial que tentará atrair recursos externos ao setor. O papel pode ser emitido por um produtor pessoa jurídica S/A e usado numa em séries, por vários anos, para captar investimentos casados com contratos de exportação. "Empresas do Japão poderiam financiar a construção de uma usina de álcool comprando o papel, que teria a exportação do produto como garantia", diz o secretário.