Título: Jobim nega divergências no núcleo governista sobre as soluções para crise
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 02/08/2007, Política, p. A10

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, reiterou ontem que a construção de um terceiro aeroporto em São Paulo, um dos principais pontos anunciados pelo presidente Lula para desafogar o tráfego aéreo de Congonhas, não está descartada, mas é uma medida de longo prazo. Como o ministro não mencionou mais este projeto transpareceu que havia uma divergência no governo, principalmente com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, sobre o assunto. "A nossa medida de curto prazo era desafogar Congonhas. A médio prazo, vamos construir uma terceira pista em Cumbica. Mantemos os estudos técnicos de viabilidade para um novo aeroporto, mas não temos prazo para essa conclusão", confirmou ontem Jobim, durante entrevista no Palácio do Planalto.

Jobim negou que haja divergências entre a decisão de segunda-feira do Conselho de Aviação Civil e o anúncio feito pelo presidente Lula, no dia 20 de julho, das medidas do governo federal depois do acidente com o vôo 3054 da TAM, que matou 199 pessoas. Segundo o ministro, há decisão de retirar de Congonhas 151 vôos, rotas que seriam desviadas para Guarulhos. Só que a pista principal suporta apenas 130 pousos e decolagens, e a auxiliar apresenta sérios problemas de pavimento.

Um estudo do DCEA e da ANAC mostrou que seria possível Cumbica receber os 151 vôos, desde que fossem realizados "remendos cosméticos na pista principal", segundo as palavras do Jobim. A saída encontrada foi realizar os reparos durante a madrugada, quando o movimento é menor.

Segundo Jobim, a partir de março do ano que vem, começarão as obras de uma terceira pista de Guarulhos. O novo aeroporto, segundo ele, tem que ficar para depois, inevitavelmente. "Precisamos definir um local, analisar a área em um Estado como São Paulo, que tem topografia mista. Teremos também que analisar a necessidade de desapropriações, medidas que demandam tempo", explicou o ministro.

A polêmica sobre o terceiro aeroporto em São Paulo acirrou as queixas feitas por setores do PT contra Jobim, taxado de "ministro tucano" pela sua proximidade com o governador de São Paulo, José Serra. Os petistas estão ressentidos com a demissão de um correligionário, Waldir Pires, e a transformação de Jobim em um dos principais protagonistas do governo.

Quando a ministra Dilma Rousseff veio a público, durante lançamento do PAC Saneamento em Cuiabá, para frisar que não havia sido abandonada a idéia de um terceiro aeroporto em São Paulo, levantou-se a hipótese de que ela poderia estar se transformando em uma "resistência petista a Jobim dentro do governo".

Na opinião de pessoas próximas ao presidente, essas suspeitas não têm fundamento. "Meu Deus do Céu, estamos diante do sonho de qualquer partido. Uma coalizão forte, com nomes de diversas legendas, hegemonizada pelo PT. O que queremos mais?", afirmou um petista.

Houve incômodo, porém, com a frase dita por Jobim durante a posse: "Aja ou saia, faça ou vá embora". A análise é que ele teria sido descortês com Waldir Pires.

Na noite de terça, alguns ministros petistas, como Tarso Genro (Justiça) e Fernando Haddad (Educação) participaram de jantar de homenagem a Pires. "Ele saiu magoado. Mas há de convir que Pires demorou demais a conscientizar-se da situação. O presidente Lula mandou diversos emissários para falarem com ele, sem sucesso", confirmou um importante assessor palaciano.

Um ministro que integra a coordenação do governo garante que Jobim é unanimidade na Esplanada. "Ele fez um bem ao país ao aceitar o convite. Um homem que foi presidente do STF e relator da revisão constitucional (em 1993) é um nome inquestionável". Pessoas próximas a Jobim lembram que "é da natureza do PT ter ciúmes de qualquer um que não seja petista". Mas ressalva: "O PT tem uma barreira, um limite - a vontade do presidente Lula, que apóia Jobim".