Título: Hipótese de defeito no Airbus ganha força na CPI
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 02/08/2007, Especial, p. A14

A CPI do Apagão Aéreo da Câmara trabalha com duas hipóteses principais sobre as causas do acidente com o Airbus A320 da TAM, no aeroporto de Congonhas (SP), 17 de julho, depois de ler ontem as transcrições dos diálogos registrados pela caixa-preta. A primeira suspeita recai sobre possível defeito no avião, que não teria respondido com perfeição aos comandos dos pilotos no momento do pouso do vôo 3054. A segunda linha de investigação analisa se houve falha humana nos procedimentos de descida e frenagem da aeronave.

"Não descarto nenhuma das hipóteses. É prematuro definir qual foi o principal fator que levou ao acidente. Mas, pelo que percebi, há grande chance de ter havido defeito na máquina", disse ontem o relator da CPI, deputado Marco Maia (PT-RS). A comissão fez duas reuniões ontem. Na primeira, foi divulgada a transcrição das conversas travadas dentro da cabine do Airbus imediatamente antes do acidente.

A segunda foi reservada. O brigadeiro Jorge Kersul Filho, chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes (Cenipa), traduziu os dados técnicos guardados pela caixa-preta do avião. Os registros dão conta de que um dos manetes - alavanca usada pelos pilotos para ordenar ao avião se deve acelerar ou frear - estava em posição de aceleração no momento do pouso. O outro estava na altura correta: a de ponto morto.

Com o manete na posição de aceleração, a turbina direita acelerou o avião. O outro manete, colocado na posição de ponto morto, fez com que a turbina esquerda desacelerasse. O avião ficou completamente descontrolado e foi parar no prédio da TAM Express, do lado de fora de Congonhas, com o qual se chocou e explodiu. No acidente, morreram 199 pessoas.

Uma das principais hipóteses investigadas pelo Cenipa e pela CPI é a de que o piloto teria colocado os dois manetes na posição correta. Teria havido uma falha no sistema eletrônico e a aeronave não fez a leitura correta do comando.

Uma das indicações de que poderia ter havido um defeito é o fato de que os spoilers - freios aerodinâmicos instalados em cima das asas - chegaram a abrir, mas fecharam-se em seguida. Outra indicação a ser investigada pelo Cenipa é o fato de justamente a turbina que manteve a aeronave acelerada estava com o reverso quebrado, segundo informação da própria TAM. O reverso é mais um dos equipamentos de frenagem. "Tudo isso pode ter contribuído. São indícios importantes", diz o deputado Beto Mansur (PP-SP).

Outra hipótese a ser analisada é a da falha do piloto. Ele teria se equivocado no momento do pouso do avião e esquecido o manete na posição errada. Alguns parlamentares, porém, consideram o erro "primário", já que um dos manetes estava na posição correta. O erro, porém, não seria uma novidade. Em Taiwan, em 2004, quando um A320 com o reverso direito inoperante não conseguiu parar. O motivo apontado à época teria sido o esquecimento de colocar o manete na posição correta.

Na transcrição das conversas dentro da cabine dos pilotos, descobriu-se que o sistema eletrônico do avião alertou o piloto para a necessidade de colocar o manete na posição de aterrissagem. O aviso foi feito por meio de alertas sonoros. Por três vezes o sistema pede "retard", expressão usada para o manete. Na conversa do piloto com o co-piloto, os procedimentos são adotados normalmente. Nenhum dos dois faz qualquer referência a um posicionamento errado do equipamento.

Depois do incidente em Taiwan, a Airbus mudou o sistema do manete. Agora, as novas aeronaves contam com um aviso luminoso que indica que o manete está na posição incorreta. Não se sabe, ainda, se o A320 acidentado no dia 17 de julho tinha sido atualizado.

É isso que os deputados pretendem perguntar hoje, na CPI. O presidente da TAM, Marco Antonio Bologna, e o representante da Airbus no Brasil, Mário Sampaio, prestarão depoimento. "Essa questão da luz de alerta terá de ser perguntada ao Bologna e ao Sampaio", disse ontem o deputado Ivan Valente (PSOL-SP). O ministro da Defesa, Nelson Jobim, não quis comentar detalhes das gravações. "Essa conclusão cabe aos órgãos de investigação." (Colaborou Paulo de Tarso Lyra)