Título: BC sobe juro para 18,25% e sinaliza nova alta
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Fonte: Valor Econômico, 20/01/2005, Finanças, p. C1

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou em 0,5 ponto percentual, de 17,75% para 18,25% ao ano, a meta para a taxa Selic, confirmando os sinais de que iria aprofundar ainda mais o aperto nos juros. São os juros mais altos vigentes no país desde novembro de 2003, quando a taxa caiu de 19% para 17,5% ao ano. O BC foi sucinto no comunicado divulgado logo após a reunião: "Dando prosseguimento ao processo de ajuste da taxa de juros básica iniciado na reunião de setembro de 2004, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 18,25% ao ano, sem viés". A expressão "sem viés" significa que os juros permanecem constantes pelo menos até os dias 15 e 16 de fevereiro, quando está marcada a próxima reunião do Copom. O comunicado praticamente reproduz o do mês anterior, quando a alta foi de também 0,5 ponto. Maiores detalhes sobre o que motivou o aperto na taxa básica só devem ser conhecidos na quinta-feira que vem, quando será divulgada a ata do encontro de ontem. De setembro para cá, quando começou a elevar os juros, o BC já aumentou a taxa básica em 2,25 pontos percentuais. O processo tem sido amplamente pré-anunciado pelo BC - os primeiros sinais de que iria agir foram dados em julho de 2004. Ainda assim, persistem dúvidas sobre quando esse aperto poderia terminar. A expressão "dando prosseguimento ao processo de ajuste na taxa de juros", inserindo no comunicado de ontem, transmite a idéia de que esse é movimento ainda não se completou. A única sinalização dada pelo Copom até agora, na sua ata de dezembro, é de que - quando encerrar o ciclo de aumento dos juros - pretende manter a taxa elevada por um período relativamente longo para fazer a inflação convergir para as metas. O objetivo perseguido neste ano é de 5,1% no IPCA, mas o mercado projeta uma inflação de 5,7%; os modelos do BC apontavam, em dezembro, um IPCA de 5,3%. A alta de 0,5 ponto nos juros básicos, se mantida constante por um ano, deverá elevar em cerca de R$ 2,1 bilhões os encargos da dívida pública (considerando apenas os juros adicionais a serem pagos na dívida pós-fixada pela Selic). O impacto total do aperto de 2,25 pontos na política monetária desde setembro já chegaria perto de R$ 10 bilhões. As ações do setor bancário estiveram entre as maiores altas de ontem da Bovespa. Os investidores compraram os papéis certos de que a nova alta da Selic irá aumentar os ganhos dos bancos. Os economistas calculam que a cada elevação de 0,50 ponto no juro básico há um acréscimo anual de R$ 2,1 bilhões na dívida pública. Já que os bancos são os maiores credores da dívida do governo, esses R$ 2,1 bilhões saem dos cofres públicos e vão para o caixa dos bancos. Este é o ganho direto, sem riscos. O indireto é a possibilidade de repasse do aumento da Selic para as taxas cobradas nos financiamentos. Enquanto o Índice Bovespa subiu 0,76%, Banco do Brasil ON fechou em alta de 3,04%, Itaúsa subiu 1,80%, seguida por Itaubanco PN (+1,70%) e Bradesco PN (+1,20%). Pesquisa do Procon de São Paulo divulgada no início desta semana revelou que três dos dez bancos analisados aumentaram as taxas do cheque especial em janeiro, antes mesmo de o Copom decidir sobre a taxa. A estimativa dos investidores é que novos ajustes aconteçam após a confirmação do aumento da taxa básica. O diretor-superintendente do Banco Fibra, João Rabêllo, diz que o comunicado pós-reunião sugere que o aperto monetário continuará em fevereiro. Mas ainda é cedo para se prever nova alta de 0,50 ponto ou a imposição de uma dose menor, de 0,25 ponto. Tudo depende dos índices de inflação e atividade econômica que sairão até lá. O consultor Miguel Daoud, da Global Adviser, diz que a nova elevação da Selic mostra que o BC não é especialista em inflação de oferta. Para atacá-la, a única providência admitida é a ampliação dos investimentos produtivos. "O BC está usando um remédio para curar inflação de demanda. Mas a inflação atual é de oferta. Como o diagnóstico está errado, o remédio transforma-se num veneno", alerta Daoud. O consultor também acredita que o BC não irá encerrar com a alta de ontem o ciclo de arrocho monetário. Para Boris Tabacof, diretor do departamento de economia do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), "o BC não deveria sobrecarregar o setor produtivo com taxas de juros que procuram compensar o aumento dos preços administrados". Armando Monteiro Neto, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), avalia que a "escalada contracionista da política monetária" pode influenciar a atividade econômica já neste trimestre. "O Copom perdeu excelente oportunidade de estimular a economia e renovar o ânimo de quem produz e trabalha no sentido de fazer de 2005 um ano bom para a economia", disse Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), em uma nota. Os sindicalistas também criticaram a decisão. Para a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o Copom "joga um balde de água fria em todos aqueles que desejam que o Brasil tenha um desenvolvimento econômico vigoroso". Já o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, avalia que o BC "dá um presente aos especuladores e pune o setor produtivo e a geração de empregos".