Título: Juro real de 12% é baixo, sinaliza BC
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 20/01/2005, Finanças, p. C2

Mais do que a decisão em si do Copom do Banco Central, de reafirmar o compasso de alta de meio ponto da taxa básica instituído na reunião de outubro, após elevação de apenas 0,25 ponto no encontro de setembro, serão os termos da ata dessa primeira reunião de 2005, a ser divulgada na próxima quinta-feira, dia 27, que devem estabelecer a curva futura de juros - a que de fato importa para balizar o custo do crédito. Ontem, o swap de 360 dias (o juro longo privado que serve de referência aos financiamentos bancários), recuou de 18,40% para 18,35%. Esse juro informa uma taxa real de 11,97%, depois de descontada a projeção de IPCA para o ano, de 5,7%. Se a ata sinalizar, como já fez o comunicado pós-reunião, que o BC pretende continuar elevando a Selic em meio ponto nas próximas reuniões, juro real de 12% será pouco. O mercado futuro de juros da BM&F fechou ontem operações sob a suposição de que a ata será escrita em tom menos aterrador que o empregado no documento de dezembro. Foi por isso que os contratos mais longos caíram expressivamente. A baixa, para os meses de julho, outubro e janeiro, foi de 0,07 ponto. O contrato para a virada do ano recuou de 18,43% para 18,36%.

A expectativa sobre os rumos dos juros nos EUA foi ontem mais determinante do comportamento dos vários mercados do que a tensão pré-Copom. Não será por causa da inflação que o Federal Reserve (Fed) irá intensificar o ritmo de alta do juro americano. Os preços estão sossegados no atacado e no varejo. Depois do PPI (índice do atacado) mostrar, na sexta-feira, deflação de 0,7% em dezembro, ontem foi a vez do CPI (varejo) confirmar o movimento cadente da inflação. Recuou no mês passado 0,1%.

Aperto monetário continuará em fevereiro

A ausência de pressões consagra compasso de aumento do juro americano de 0,25 ponto percentual, com direito a uma interrupção quando a taxa chegar nos 3%. Isso deve acontecer na reunião de maio. Na primeira reunião do ano do Comitê de Mercado Aberto do Fed, marcada para 1º e 2 de fevereiro, o over americano deve subir de 2,25% para 2,5%. A conclusão é que os gestores dos hedge funds ainda têm muito tempo para desenvolver operações arriscadas (toma-se dinheiro a juro baixo e compra-se bônus de emergente) no mercado de títulos da dívida externa. Os papéis brasileiros refletiram já ontem essa tendência pró-emergentes. O C-Bond subiu 0,26%, para US$ 1,0115. E o risco-país cedeu 0,68%, a 437 pontos-base. O dólar se valorizou no mercado externo (o euro chegou a cair abaixo de US$ 1,30) mas recuou no mercado interno. A razão foi o anúncio de que o fluxo cambial está positivo. Nos dez primeiros dias úteis de janeiro o fechamento de câmbio foi superavitário em US$ 904 milhões. A moeda fechou cotada a R$ 2,7110, em queda de 0,29%. A tendência é de ampliação do ingresso de dólares e da apreciação cambial. O Brasil, num cenário externo propício ao reatamento da lua-de-mel com o capital especulativo, atrai mais do que outros emergentes porque paga a maior da taxa real de juros do mundo. Luiz Sérgio Guimarães é repórter de finanças