Título: Dívida mobiliária sobe menos em 2004, mas prazo de títulos encurta
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 20/01/2005, Finanças, p. C2

A dívida em títulos do governo federal cresceu com menos vigor em 2004, e a sua parcela vinculada à cotação do dólar foi reduzida a quase metade. O calcanhar-de-aquiles do endividamento, porém, é a redução dos prazos médios dos papéis. Ontem, o Tesouro Nacional divulgou dados de dezembro sobre a dívida mobiliária, que completam o retrato da evolução do débito durante o ano. O ponto mais favorável foi uma desaceleração na expansão deste débito - a taxa foi de 11,01% no ano, atingindo R$ 811,97 bilhões, bem abaixo dos 17,37% registrados em 2003. O endividamento ficou menor do que o previsto no programa de financiamento da dívida divulgado pelo Tesouro no início do ano: a expectativa era que, na melhor das hipóteses, o débito ficasse em R$ 820 bilhões. Pesou favoravelmente o fato de um importante "esqueleto" (dívida velha que está sendo reconhecida) não ter atingido o volume esperado: as emissões para cobrir débitos do Fundo de Compensação das Variações Salariais (FCVS). Houve queda expressiva na parcela da dívida mobiliária vinculada ao dólar (incluindo títulos e swaps cambiais), que fechou 2004 em 9,86%, ante 19,02% um ano antes. A melhora do perfil da dívida pelo critério tipo de rentabilidade se deve à agressiva estratégia de não rolagem dos instrumentos cambiais - a taxa de renovação em 2004 ficou em meros 4,4%, bem abaixo dos 61,3% do ano anterior. O outro dado positivo foi o aumento da participação da dívida prefixada no débito, que saltou de 12,51% para 20,04%. O lado ruim foi a redução nos prazos médios da dívida mobiliária, o que significa que o Tesouro está mais vulnerável caso se repita um episódio como o de 2002, quando o mercado se recusou a comprar títulos públicos, devido ao receio do que poderia ser o governo Lula. O prazo médio da dívida caiu de 31,34 meses para 28,08 meses, entre dezembro de 2003 e 2004. Parte dessa queda se explica pela maior colocação de títulos prefixados, que normalmente têm maturação mais curta. Em dezembro de 2004, a dívida prefixada tinha prazo médio de 5,63 meses; já a dívida com juros pós-fixados tinha uma maturação de 17,44 meses. Mas houve também os efeitos da perda de apetite do mercado, a partir de abril de 2004, por papéis de longo prazo de forma geral. Em março passado, o Tesouro conseguia colocar títulos pós com prazo médio de 61,16 meses. Em abril, elevou-se a volatilidade no mercado internacional, em virtude de incertezas sobre o ritmo de aperto na taxa de juros e das altas cotações do petróleo. Esse cenário mais sombrio fez com que o prazo médio das novas emissões de títulos sofresse seguidas quedas, até atingir um mínimo de 15,4 meses em agosto de 2004. De lá para cá, porém, houve alguma recuperação - e, em dezembro, o prazo subiu para 23,13 meses. O coordenador-geral da dívida pública do Tesouro, Paulo Valle, pondera que o indicador mais importante para avaliar o prazo é a "duration" - ou seja, a sensibilidade da dívida em relação a movimentos na taxa básica. Esse indicador é um misto do prazo da dívida com sua composição. Quanto maior a parcela de papéis prefixados, maior a duration. "A duration está se elevando", afirmou Valle. A evolução deste indicador deverá ser apresentada na semana que vem pelo Banco Central.