Título: Presidente quer aliados unidos na disputa municipal
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 03/08/2007, Política, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ontem, ao término da reunião do Conselho Político, empenho dos partidos aliados para evitar disputas entre si nas eleições municipais de 2008. Com isto, o próprio presidente deflagrou o processo eleitoral. Lula sugeriu que, pelo menos nas capitais e nos grandes centros, os partidos da bancada governista busquem candidaturas únicas para prefeito. O apelo presidencial tem como objetivo principal manter a base coesa durante o seu mandato, e evitar que se aprofundem as divergências que já começaram. "Precisamos evitar ressentimentos pós-eleitorais e pensar em 2010", afirmou o presidente.

O pedido foi feito quando os líderes aliados já se preparavam para deixar a reunião do Conselho. Lula chegou a brincar com o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP). "Ô, Temer, você que é o presidente do maior partido da base, podia ceder sua casa para reunir os nossos aliados". Temer concordou e o primeiro encontro pode acontecer já na próxima semana.

Lula quer evitar os choques das eleições de 2004. Reclamações mútuas, queixas sobre divisão de recursos acabaram desaguando no escândalo do mensalão. Além disso, a base aliada acabou vivendo momentos de paralisia no Congresso. Os "ressentidos", como alguns parlamentares eram conhecidos à época, obstruíam as votações na Casa.

O presidente chegou a manifestar o desejo de promover a reaproximação dos braços sindicais do PT e do PCdoB. Aliados históricos, os dois partidos romperam politicamente após a disputa acirrada de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Arlindo Chinaglia (PT-SP) pela presidência da Câmara, e agora avaliam o lançamento de candidaturas separadas em 2008. Lula sugeriu ao presidente do PCdoB, Renato Rabelo (SP) uma reunião entre as direções partidárias .

Agora, quer recuperar a aliança. " Poderíamos reatar essa parceria ainda para as eleições de 2008 " , disse Lula a Rabelo. Rabelo afirmou o grupo de esquerda - que inclui ainda PDT e PSB - está solidificado e a tendência é que o " bloquinho " marche distante do PT nas próximas disputas eleitorais.

Os comunistas foram também ao presidente justificar a saída da CUT e a possibilidade da criação de uma nova central sindical - a Central Classista dos Trabalhadores - que deverá ser formalizada ainda este ano. Rabelo afirmou ao presidente que a atual direção da CUT é segregacionista e abandonou o perfil " plural " que sempre caracterizou a entidade. " Preferimos deixar a CUT, formar uma nova Central e buscar uma unidade por fora " , declarou Rabelo. Segundo o presidente do PCdoB, Lula teria reconhecido que existem problemas na direção da CUT.

Sobre o pedido de Lula para união dos aliados em 2008, Rabelo reagiu cético: "É a chance de os partidos se apresentarem ao eleitor".

Mais otimista, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), assegurou que o PMDB estará na linha de frente da estratégia. Segundo ele, o presidente teria dito "não ser possível que, em uma base tão ampla, não fosse possível encontrar-se um consenso para as disputas eleitorais". O pemedebista disse que as reuniões precisam acontecer o mais rapidamente possível.

O líder do governo na Câmara, José Múcio Monteiro (PE), defendeu na reunião mais transparência e agilidade na liberação das emendas parlamentares. "Da forma como as coisas estão acontecendo, passa-se a impressão de que as emendas estão sendo liberadas em troca de votações no Congresso. Essa sensação não é boa para ninguém", reclamou. Ele tem a mesma opinião sobre as nomeações: "Somos todos aliados, fazemos parte do mesmo governo". (PTRL)