Título: Lula se diz surpreendido por crise nos aeroportos
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 03/08/2007, Política, p. A8

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu ontem, durante reunião do Conselho Político, ter sido surpreendido pela crise aérea que perturba o país há dez meses, iniciada com o choque entre o vôo 1907 da Gol e um Legacy e que culminou com a tragédia do vôo 3054 da TAM, em Congonhas. Lula afirmou que nenhuma autoridade no país - nem ele próprio - tinha a exata dimensão da crise.

"É como um paciente que começa a apresentar alguns sintomas e, quando você vê, descobre que ele está com metástase no corpo inteiro", afirmou o presidente, segundo relato de um dos presentes.

Lula lembrou que disputou cinco eleições - incluindo as duas vitoriosas - e que jamais a crise aérea foi apresentada como um gargalo no país. "Se existia um problema tão grande assim, como é que ninguém havia levantado essa questão antes?", complementou.

O presidente afirmou aos seus aliados que era nítida a ausência de comando e autoridade no debate travado. Citou a existência de diversos órgãos para controlar o setor. "É como um cachorro que tem cinco donos. Acaba que ninguém cuida do cachorro e ele morre no final", comparou.

O presidente afirmou que nomeou o ministro da Defesa, Nelson Jobim, justamente para impor autoridade e colocar ordem em um "Ministério que até então não existia". Repetiu aos parlamentares o que já tinha dito aos ministros da coordenação política de governo: Jobim tem carta branca para definir a equipe e as estratégias para o país sair da crise atual.

O deputado Walter Pinheiro (PT-BA) pediu ao presidente e aos aliados rapidez para a aprovação do projeto das agências reguladoras, que está pronto para ser votado pelo plenário da Câmara. Segundo Pinheiro, é fundamental que o projeto esteja aprovado até dezembro, para dar segurança ao setor.

O presidente Lula disse ao Conselho Político que, tão logo retorne de suas viagens pela América do Norte e Central, vai reunir-se com a chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, para tratar da questão. Ele não quis adiantar qualquer opinião, mas demonstrou incômodo com a autonomia dos diretores das agências. "As agências têm que ter autonomia sim. Mas é certo que alguns diretores tenham mais poderes e possam tomar decisões acima do presidente da República, que é eleito pelo povo"? questionou Lula, segundo relato de um dos presentes.

No final da tarde, o presidente recebeu uma comissão de três parentes de vítimas dos vôos da TAM. Segundo o administrador Luiz Fernando Moisés, que perdeu a esposa Nádia Bianchi no acidente, o presidente demonstrou solidariedade, mas afirmou que não vai se pronunciar sobre possíveis responsáveis antes de ter em mãos todos os documentos da investigação.

O funcionário público Raifram Almeida, que perdeu o irmão, a cunhada e dois sobrinhos, disse que classificou como "um desrespeito" o gesto obsceno feito pelo assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, ao saber que o acidente pode ter sido provocado por uma pane no reverso direito do avião. A Comissão de Ética do governo classificou o gesto de Marco Aurélio, como "impróprio".