Título: FHC critica uso político de fosso social
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 03/08/2007, Política, p. A9

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem, em São Paulo, que as "brechas entre ricos e pobres não devem ser aumentadas na política". A frase foi proferida dois dias depois do presidente Luiz Inácio Lula da Silva dizer que "ninguém sabe colocar mais gente na rua" do que ele e que os ricos ganharam muito dinheiro em seu governo e, por isso, os pobres é que deveriam estar zangados.

A crítica do ex-presidente não foi feita diretamente a Lula. FHC discursou para uma platéia de empresários, intelectuais e estudantes, no lançamento da revista americana "America Quartely", da qual é membro do Conselho Editorial. Falando sobre a necessidade do mundo lidar com diferenças culturais e sociais, disse ser preciso "trabalhar na aceitação do outro". "Apesar das brechas entre ricos e pobres, o que às vezes é aumentado na política. Devemos evitar isso, não usar como poder."

Antes da palestra, FHC conversou com os jornalistas. Questionado sobre os movimentos "Cansei", capitaneado por empresários e pela OAB-SP, e "Cansado", da CUT, respondeu que uma democracia deve ter manifestações de todos os tipos. "Acho que isso é normal. Uns são mais exaltados, outros, menos. É da índole da sociedade democrática quem está no governo entender que isso faz parte do jogo."

Sobre a afirmação de Lula de que "alguns estão brincando com a democracia", disse que manifestar não é brincar. "Democracia não é opinião unânime, opinião de sua majestade, é do povo, que não tem uma só opinião, mas várias". Logo em seguida, foi além: "Acho que o presidente Lula, de vez em quando, usa as palavras sem atentar realmente ao significado delas. Eu relevo por aí".

Segundo FHC, "rico geralmente não vaia porque tem medo: quer continuar ganhando dinheiro, não vai vaiar o presidente".

Sobre a nomeação de Nelson Jobim para o Ministério da Defesa, FHC disse que o país precisa de alguém para colocar "ordem na casa": "Torço para que o Jobim tenha a capacidade de por ordem na casa e a paciência para gerenciar. Está precisando em toda parte, não só lá".

O governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), também defendeu o "Cansei", em Belo Horizonte. Afirmou que é uma manifestação "absolutamente legítima" e um "movimento democrático de insatisfação": "Está longe de poder ser considerado um movimento golpista, porque nós vivemos numa democracia. E só nos regimes autoritários é que não se respeitam manifestações contrárias", disse Aécio.