Título: Projeto bilionário revela companhia de TI que existe dentro do Bradesco
Autor: Rosa, João Luiz
Fonte: Valor Econômico, 03/08/2007, Empresas, p. B1

Você nunca poderá levar um computador com a marca dessa empresa para casa - simplesmente porque as máquinas não existem -, nem contratar seus serviços de tecnologia para ajudar no escritório, já que eles não estão disponíveis. A companhia também não fabrica impressoras ou equipamentos de rede e se produz software só o faz para suas próprias necessidades. Mesmo assim, a companhia em questão é uma das maiores do país na área de tecnologia da informação (TI): tem 3,3 mil funcionários, um orçamento superior a R$ 1 bilhão e está prestes a ocupar um prédio no qual investiu R$ 160 milhões só para abrigar seus computadores de grande porte. Que empresa é essa? O Bradesco.

Como outros grandes bancos brasileiros, o Bradesco - o maior grupo financeiro do país, segundo a revista "Valor Grandes Grupos" - é conhecido pelo investimento maciço em TI. Isso não é novidade para ninguém. Agora, porém, os limites do banco parecem prestes a ser testados pelo "Projeto TI Melhorias", que engloba 28 programas diferentes, todos de grande porte. "O projeto começou em 2003, mas está entrando em sua fase mais aguda, com a maioria das implementações previstas", diz Laércio Albino Cezar, vice-presidente executivo do Bradesco. Do orçamento de R$ 1,3 bilhão reservado para o "TI Melhorias", foram gastos até agora R$ 481 milhões. É o equivalente a 37% do total, o que significa que a maior parte do bolo ainda está para sair dos cofres.

Um dos programas prevê R$ 40 milhões para substituir 21 mil impressoras das agências por 13,5 mil equipamentos mais novos, incluindo 3,5 mil multifuncionais. Outro destina R$ 20 milhões para a aquisição de 10 mil switches - as caixas de comunicação que integram os equipamentos nas agências. O cabeamento é outro alvo: o processo de troca, que começou há 18 meses, vai custar R$ 30 milhões.

Com o Projeto TI Melhorias, o Bradesco quer melhorar o que Cezar chama de retaguarda da infra-estrutura - coisas que ninguém vê, como computadores centrais, sistemas operacionais e redes de comunicação - e provocar uma onda capaz de modificar a chamada vanguarda, o degrau mais próximo do banco em seu relacionamento com o cliente.

Na parte que fica invisível aos correntistas estão dois dos maiores projetos: o primeiro é a reconstrução das principais aplicações de negócio. Aplicações, no caso, são os softwares que determinam como um produto financeiro deve funcionar, seja um seguro ou um consórcio. Sem eles, é impossível ao gerente na agência oferecer qualquer novidade ao cliente. O Bradesco direcionou R$ 450 milhões ao programa. "Metade dos recursos já foram consumidos e cerca de 40% dos softwares estão escritos", diz Cezar. A previsão é terminar o trabalho em 2009.

Para mexer com tantos sistemas diferentes, é preciso mobilizar um exército. Hoje, existem no Bradesco 2,1 mil funcionários diretos dedicados à área de TI. Cabe a eles detectar as necessidades do banco e desenhar os programas de computador. Se trabalhasse na construção civil, seriam os engenheiros que projetam o prédio. A construção propriamente dita - ou seja, o trabalho de escrever as linhas de código - é feita externamente. Há cerca de 25 empresas homologadas pelo banco, capazes de fornecer esse trabalho. Juntas, elas representam um batalhão de mais 1,2 mil pessoas dedicadas ao Bradesco.

O segundo grande projeto de retaguarda é o novo centro de tecnologia da informação, que ocupa 10 mil metros quadrados e demorou 13 meses para ficar pronto. Só o edifício situado na Cidade de Deus, em Osasco (SP), custou R$ 160 milhões. Mais US$ 100 milhões serão destinados à aquisição de mainframes (grandes computadores centrais), robôs e sistemas de armazenamento de dados.

A migração para as novas instalações - um projeto que envolve o próprio Bradesco, a CPM e a IBM - está no início. As primeiras operações efetivas estão previstas para janeiro e a previsão é concluir a mudança até dezembro de 2008. Em Barueri (SP), o banco mantém um centro de redundância, que pode ser acionado em casos de emergência.

Curiosamente, pouca gente vai trabalhar nas novas instalações. "Serão pouquíssimas pessoas. O 'cara' mais importante será o computador", diz Cezar. Ao todo, cerca de 14 mil componentes serão monitorados individualmente. Será possível, por exemplo, saber o que acontece com cada uma das 960 baterias dos nobreaks, os aparelhos que mantém as máquinas em funcionamento durante eventuais falhas de energia elétrica.

Apoiado nesse reforço interno, o Bradesco testa novidades na outra ponta, a mais próxima do cliente. Em 253 agências do Rio e 112 de São Paulo começou a funcionar um serviço que permite ao usuário visualizar, via internet, a frente e o verso de seu cheque.

Outra novidade é um aparelho acoplado aos caixas automáticos, que faz a leitura da palma da mão dos clientes. Disponível em 50 caixas - 40 em São Paulo e 10 no Rio -, o projeto será ampliado para 200 equipamentos em até quatro meses. "O dispositivo faz a autenticação das operações com muito mais segurança", diz Cezar. A probabilidade de erro é de 0,0008%, ou seja, 8 em 10 milhões.