Título: Vale compra participação em usina da Mittal nos EUA
Autor: Durão, Vera Saavedra e Ribeiro, Ivo
Fonte: Valor Econômico, 03/08/2007, Empresas, p. B8

A Vale do Rio Doce voltou a surpreender o mercado ao anunciar ontem que integrou o consórcio de empresas que adquiriu a siderúrgica Sparrows Point, de propriedade da ArcelorMittal, nos Estados Unidos. Em comunicado divulgado no início da noite, a mineradora informou que tão logo a transação seja aprovada pelo Departamento de Justiça daquele país vai investir US$ 270 milhões para ter uma participação minoritária na empresa, onde terá como parceiras as siderúrgicas Industrial Union of Donbass, da Ucrânia, e as americanas Esmark Inc. e Wheeling-Pittsburg Corporation, além de vários investidores institucionais. O anúncio da venda da antiga usina da Mittal Steel para o consórcio foi feito ontem pela manhã pela ArcelorMittal, que espera concluir a transação no último trimestre do ano.

Com este lance, a Vale entra no mercado americano como fornecedora de minério de ferro para uma usina de porte como a Sparrows Point. A siderúrgica tem capacidade para fazer 3,9 milhões de toneladas de aço por ano e para supri-la a mineradora garantiria em torno de 6 milhões de toneladas de minério. Por esta razão, como destaca no comunicado, a aquisição é consistente com a estratégia da Vale de investir em participações minoritárias em ativos de aço para ampliar seu portfólio de clientes de minério de ferro. A Vale prevê neste ano produzir 300 milhões de toneladas e alcançar 330 milhões em 2008. A meta é atingir 430 milhões de toneladas em 2011.

A notícia da venda da Sparrows Point põe fim a um longo processo de disputa que confrontou mais uma vez a Cia. Siderúrgica Nacional (CSN) e a Esmark Inc., usina americana líder do consórcio. A primeira disputa da CSN com a Esmark se deu no ano passado e o alvo era a Wheeling-Pittsburg. A Esmark saiu vitoriosa e assumiu o controle da siderúrgica, pela qual a CSN fez uma oferta mas não teve apoio dos empregados da empresa. Procurada pelo Valor, a CSN não quis se pronunciar o assunto.

O desfecho da venda de Sparrows Point mostra novo confronto de Benjamin Steinbruch, dono da CSN, com Roger Agnelli, presidente da Vale. As duas empresas vivem uma queda de braço, que envolveu o Cade, órgão antritruste, e uma Corte de Arbitragem, por conta da venda de minério de ferro da mina Casa de Pedra, em Congonhas (MG), da qual a CSN é proprietária e a Vale tem um acordo de exclusividade sobre produto excedente.

Segundo analistas do Banif Primus, a perda da Sparrows Point, antiga usina da Bethlehem Steel, indica que a CSN tem de se voltar para seus investimentos em novas usinas de aço no Brasil. A empresa tem dois projetos - um em Itaguaí e e outro em Congonhas, ao lado de Casa de Pedra, que somam 9 milhões de toneladas -, bem como aos de expansão da mina e de instalação de uma pelotizadora.

Ao anunciar a venda de Sparrows Point, Aditya Mittal, vice-presidente financeiro da ArcelorMittal, disse que a companhia trabalhou junto ao Departamento de Justiça americano por vários meses para satisfazer os termos da determinação do órgão para vender a usina, em razão da compra da Dofasco, no Canadá, pela Arcelor. "Estamos contentes com a conclusão deste processo", declarou Aditya.

Sparrows Point, de quem a Arcelor Mittal foi obrigada a abri mão por exigência dos órgãos de concorrência americanos por estar com uma participação excedente no mercado local, é considerada pela Vale "excelente ativo", pois tem modernas instalações, acesso marítimo direto para importação e exportação e potencial para tornar-se um participante ativo no mercado mundial de minério. É uma usina siderúrgica integrada, localizada no Estado de Maryland (costa Leste dos país). Produz aços planos laminados, galvanizados e estanhados, assim como placas para o mercado americano.

Sparrows Point é o segundo ativo de aço da Vale nos EUA: a empresa detém 50% da Califórnia Steel Industries, em Los Angeles, uma laminadora de aços planos.