Título: Vale estuda lançar bônus perpétuo e quer captar US$ 1 bilhão este ano
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 20/01/2005, Finanças, p. C2

A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) prepara um programa de captação de recursos de US$ 1 bilhão este ano, ante US$ 1,1 bilhão em 2004. O diretor de finanças da companhia, Fábio Barbosa, adiantou que a mineradora, que ano passado lançou um bônus de 30 anos, recebeu uma proposta de bancos para lançar este ano um bônus perpétuo no mercado financeiro internacional. "Estamos avaliando", disse o executivo. O bônus perpétuo é um papel que não se resgata, mas para o emissor o título tem uma "call" - opção de resgate antecipado por parte da empresa. No caso do investidor, não há como resgatá-lo. "Ou vende ou fica com o papel", explicou ao Valor Augusto Urmeneta, do Merrill Lynch de Nova York. Na América Latina, apenas duas companhias captaram recursos via bônus perpétuo. A Pemex, estatal mexicana do petróleo, e a Gruma, também mexicana, da área de alimentos, contou Urmeneta. O Merrill Lynch coordenou as duas transações. A estatal mexicana de petróleo citada por Barbosa lançou títulos perpétuos no mercado em setembro do ano passado, a juros de 7,75% ao ano, numa operação liderada pelos bancos Merrill Lynch, Citigroup e HSBC, na qual captou US$ 1,75 bilhão. Geralmente, o juro do bônus perpétuo é alinhado ao de papéis de 30 anos e fica na faixa dos 7% a 8%. Ontem, os preços dos títulos perpétuos da Pemex eram cotados no mercado secundário americano a 100,5985% do valor de face para compra e de 100,9481% para venda, segundo a Bloomberg. Os bônus poderão ser resgatados pela companhia em setembro de 2009. No ano passado, a Vale captou US$ 500 milhões numa operação pela qual a companhia tem "muito apreço", conforme relatou Barbosa, além de conseguir empréstimos com o JBIC do Japão e poucas operações de trading finance (crédito para exportação). O papel de 30 anos da Vale está sendo negociado atualmente ao custo de 7,8% e foi lançado a 8,3%. Barbosa não garante, porém, que este seja o custo atual para um papel da Vale. "Depende do prazo e do instrumento de captação". Barbosa destacou que a Vale este ano tem chances de atingir a classificação de crédito de "investment grade" (investimento menos arriscado), o que poderá, na avaliação dos analistas Andrea Weinberg e Marcelo Aguiar, do Merrill Lynch, reduzir seu custo de capital nas operações internacionais. Por conta dessa boa perspectiva e do programa recorde de investimento da mineradora para 2005, da ordem de US$ 3,5 bilhões, o Merrill Lynch elevou o preço-alvo do ADR da Vale de US$ 28 ara US$ 35. "Estamos agora a meio grau do investment grade. Então, a gente espera que o Brasil vá também. Se o Brasil se mover este ano um grau, a Vale se torna investment grade. O Brasil está três graus abaixo dessa categoria", relatou Barbosa, contando que a Vale recebeu da agência de risco Moody's nota "Ba1" com perspectiva positiva. Barbosa anunciou que a Vale vai divulgar em 31 de janeiro seu dividendo mínimo, que é pago em duas partes: janeiro e outubro. "Estará certamente em linha com nossos acionistas". O analista da Brascan Luiz Caetano acredita que o valor dos investimentos da Vale pode reduzir seu dividendo. (Colaborou Cristiane Perini Lucchesi, de São Paulo)