Título: Gaudenzi pede que diretoria da Infraero entregue cargos
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 08/08/2007, Brasil, p. A4

Em evento cheio de recados e alfinetadas, o brigadeiro José Carlos Pereira despediu-se da presidência da Infraero com um ataque sutil a seus colegas de crise aérea. Logo depois, seu substituto, Sergio Gaudenzi, pediu que toda a diretoria e assessores da estatal colocassem seus cargos à disposição.

Ao deixar o cargo que ocupou por um ano e quatro meses, Pereira atribuiu os problemas atuais a deficiências éticas e morais. Foi uma contraposição às primeiras declarações do ministro da Defesa, Nelson Jobim, para quem a "falta de comando" é responsável pela crise. Para o brigadeiro, "toda a origem do que estamos passando está centrado em questões de ética e de moral". "Existe a lei que não foi cumprida, a lei que foi esquecida ou a hora da decisão em que a ética não foi adotada", completou Pereira, em seu discurso de despedida.

Ele não especificou a quem dirigia suas críticas, mas em nenhum momento recuou - nem orientou seus assessores mais próximos a fazê-lo - das acusações que fez à diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Denise Abreu. Denise não estava na solenidade, que aconteceu no Ministério da Defesa, mas Milton Zuanazzi, presidente da agência, aproveitou a ocasião para tomar as dores da colega. Para Zuanazzi, o brigadeiro falou "bobagem". Pereira havia acusado Denise de tentar favorecer um amigo com a transferência de vôos cargueiros de Viracopos para o aeroporto de Ribeirão Preto. "Isso não existe, não é verdade", disse o presidente da Anac.

Pereira, que saiu sem dar entrevista, mirou diretamente em Jobim quando comentou que, no decorrer da crise dos últimos meses, releu obras dos filósofos Immanuel Kant e Ortega y Gasset. "O senhor como jurista", dirigiu-se ao ministro, "sabe que a moral trata do certo e do errado, e a ética trata do bem e do mal. Tenho a impressão de que em algum momento, na nossa sociedade, ocorreram falhas", disse o brigadeiro.

Jobim evitou uma resposta direta, mas cobrou a nova diretoria da Infraero. "Que não prometam competência, mas tenham uma demonstrada competência. Essa é a imposição dos últimos fatos que ocorreram" discursou o ministro. Ao contrário dos salamaleques comuns nesse tipo de solenidade, Jobim usou apenas seis palavras para despedir-se de Pereira. "Eu agradeço ao brigadeiro J. Carlos", afirmou o ministro ao ex-chefe da Infraero.

Gaudenzi, assumiu com carta-branca para mudar a cúpula da estatal e pediu aos diretores que ponham os cargos à disposição. Disse que o pedido é extensivo a assessores diretos e superintendentes regionais, que respondem à presidência. A economista Solange Vieira, ex-secretária de Previdência Complementar no governo FHC, é cotada para a diretoria de Finanças. O conhecimento técnico será "critério básico" para as nomeações, disse Gaudenzi.

Ele insistiu na necessidade de maior coordenação entre os órgãos do setor aéreo e afirmou estar convencido que o principal nó do sistema é São Paulo, com efeito-cascata sobre todo o país. Alegando que ainda está tomando conhecimento da situação da Infraero, Gaudenzi preferiu não falar sobre reformas em pistas e a expansão de aeroportos como Guarulhos e Viracopos. No discurso de posse, preferiu contemporizar. "Sou um homem de diálogo e sempre trabalhei em equipe. Gosto de ouvir, não gosto do sucesso individual."