Título: Indústria reduz ritmo de elevação de salários
Autor: Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 08/08/2007, Brasil, p. A5

O crescimento da remuneração média paga aos trabalhadores na indústria vem se desacelerando há cinco meses consecutivos, de fevereiro a junho. A informação é da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e refere-se às comparações, mês a mês, com o ano passado. Segundo o economista da entidade, Paulo Mol, esse efeito está relacionado com o crescimento do segmento etanol, que paga salários médios menores que os da indústria em geral.

Os números da CNI mostraram que o setor de refino e álcool teve queda de 12,6% nas remunerações pagas em junho. No primeiro semestre, houve aumento de 3,5%.

A pesquisa Indicadores Industriais, divulgada pela CNI, revelou que as remunerações pagas em janeiro deste ano foram 7,8% maiores que as de janeiro de 2006, mas essa variação foi caindo mês a mês. Em fevereiro, o aumento foi de 6,5%. Março teve elevação de 5,8% e abril, 4,9%. Em maio, as remunerações foram 3,3% mais altas que maio do ano passado. O semestre fechou com junho tendo apenas 1% de variação sobre junho de 2006. Na comparação dos semestres, as remunerações pagas foram 4,8% maiores este ano do que nos primeiros seis meses de 2006.

As vendas da indústria no primeiro semestre tiveram crescimento real de 2,7%, aumento menor que o das horas trabalhadas na produção (3,6%). Nesse período, os destaques setoriais positivos ficaram com máquinas e equipamentos (14,8%) e metalurgia básica (9,7%). As mais intensas quedas foram de outros equipamentos de transporte (27,5%) e material eletrônico e de comunicação (20,7%).

Na análise de Mol, esse crescimento médio de 2,7% nas vendas é positivo, mas poderia ser melhor não fosse o câmbio. A valorização do real restringe a expansão do faturamento da indústria, segundo a CNI. Em junho, a moeda brasileira valorizou-se 2,5% frente ao dólar. Nos últimos 12 meses, até junho, a valorização foi de 14,1%.

Além da criticada perda de competitividade das exportações, causada pelo câmbio, o economista da CNI, Renato da Fonseca, alertou para outro efeito negativo para a indústria: a crescente substituição de produtos nacionais por importações, principalmente matérias-primas e bens intermediários. "Há um descolamento entre os ritmos de crescimento dessas importações e o da produção nacional desses itens. As compras de mercadorias estrangeiras crescem mais que a fabricação doméstica."

Os indicadores industriais de junho também mostraram que as vendas foram apenas 0,2% maiores que as de maio. Na comparação com junho de 2006, houve queda de 4,5%. Mas a redução, segundo a CNI, deveu-se à alta base de comparação, o que afetou poucos setores, e à valorização cambial de 14,1% nos últimos 12 meses. As contribuições negativas ficaram concentradas em três setores: outros equipamentos de transporte (exceto veículos), coque e refino de petróleo e álcool e materiais eletrônicos e de comunicações.

As horas trabalhadas em junho tiveram leve recuo de 0,3% sobre o mês anterior, mas cresceram 3,3% sobre junho de 2006. Na comparação dos semestres, foi registrado alta de 3,6%. Nos primeiro semestre deste ano, os setores que mais ampliaram a produção foram refino e álcool (16,4%) e alimentos e bebidas (12,5%). Movimento contrário ocorreu com as reduções nas horas trabalhadas nos segmentos de material eletrônico e comunicação (11,4%) e outros equipamentos de transporte (10,3%).

No indicador de pessoal empregado, junho apresentou ligeira elevação (0,1%) sobre maio e aumento de 3,3% sobre junho do ano passado. No primeiro semestre, houve crescimento de 3,4%. Os destaques positivos, nos seis primeiros meses, ficaram com refino e álcool (13%) e alimentos e bebidas (9,8%). Material eletrônico e de comunicação (4,6%) e edição e impressão (3,3%) foram as maiores quedas no período.

O uso da capacidade instalada ficou em 82,2% em junho. No mês anterior, tinha sido de 82,6%. Em junho de 2006, foi de 80,5%. Mol e Fonseca não acreditam em dificuldades na capacidade da indústria, porque a produção vem aumentando, mas a importação de bens de capital também acompanha esse ritmo.