Título: Planalto diz que, se necessário, usará 'rolo compressor'
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 08/08/2007, Política, p. A10

O Palácio do Planalto resolveu partir para o confronto e orientou a base aliada no Senado a votar as matérias de interesse do Executivo, apesar da obstrução ameaçada pela oposição. PSDB e Democratas reiteraram ontem, no plenário da Casa, que vão impedir todas as votações enquanto o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) não se afastar da presidência. A oposição acertou que a última votação tranqüila seria a alteração da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, prevista para ontem. "Se necessário for, vamos usar o rolo compressor", afirmou um ministro palaciano, embora no Senado o governo transite com dificuldades.

A posição do governo foi decidida em um almoço ontem. Os governistas vão alegar que Renan está sendo investigado no Supremo Tribunal Federal - a partir de um pedido dele próprio. E que nenhuma representação do P-SOL no Conselho de Ética foi impedida de tramitar por pressão do Planalto ou do próprio pemedebista. "As instituições estão funcionando. O Senado está investigando as representações feitas pelos partidos e o senador Renan Calheiros vai ser investigado pelo STF. Nada está parado", reforçou o ministro da coordenação política, Walfrido dos Mares Guia.

Outro ministro palaciano classificou como um "erro" a estratégia da oposição de paralisar as votações do Senado. "Eles vão ter que prestar contas dessa decisão. A crise do senador Renan é do Senado, não podemos deixar de votar matérias que interessam ao país", defendeu o ministro. O Planalto admite, contudo, que terá de entrar mais diretamente no escândalo para neutralizar a ação de democratas e tucanos. "Vamos conversar com a oposição. Mas é evidente que vamos ter de trabalhar em dobro para colocar nossa base em plenário e assegurar os votos necessários para aprovar matérias de nosso interesse", confirmou um ministro ouvido pelo Valor .

No Congresso, o ímpeto do Planalto foi visto com mais cautela. O governo não tem uma maioria sólida no Senado e esta depende essencialmente do PMDB - partido do senador Renan Calheiros. A situação se complica ainda mais se a votação exigir quorum qualificado de 3/5, como é o caso da emenda constitucional que prorroga a cobrança da CPMF e da DRU. "Cada dia é um dia, vamos ter que negociar projeto a projeto", confirmou o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).

Assessores pemedebistas acreditam que o governo terá que abrir um balcão de varejo para garantir a votação. "Vamos ter que repetir uma prática comum na Câmara. Negociar ponto a ponto, prometer liberar emendas, cargos nos Estados. Sem isso, não teremos maioria nunca". Pelos cálculos, o PMDB governista assegura uma maioria de quatro votos ao Planalto. Mas em votações estratégicas, nada disso é garantido. "Não dá para usar o rolo compressor aqui no Senado", confirmou o líder do PSB na Casa, Renato Casagrande (ES).

Casagrande, que integra o grupo de três relatores do caso Renan e adota uma postura independente - chegou a ser vetado pelo pemedebistas por defender uma investigação aprofundada do escândalo envolvendo o presidente do Senado - critica a ameaça da oposição de paralisar os trabalhos do Congresso. "Não podemos pendurar o país no caso Renan. Tem coisas importantes para serem votadas. Hoje (ontem) fechamos acordo para votar as medidas provisórias, vamos ter que conversar muito para sair desse impasse", defendeu o parlamentar capixaba.

A oposição fez pouco caso da pressão do governo. Sabe que, no Senado, as coisas jamais foram fáceis para o Executivo. E que a garantia de maioria depende do PMDB, partido que jamais vota unido. "É do jogo eles ameaçarem colocar o rolo compressor para cima de nós. Eles querem votar, nós não. Para isso, terão que colocar sua base no plenário para dar quorum. Quero ver se eles têm de fato número para isso", disse o líder do Democratas, José Agripino Maia (RN).