Título: Bônus cresce 36% e reforça os salários do alto escalão
Autor: Giardino, Andrea
Fonte: Valor Econômico, 08/08/2007, EU & Investimentos, p. D6

Há muito tempo os executivos do alto escalão do empresariado brasileiro não viam seus salários engordarem tanto. Prova disso são os bônus pagos pelas empresas até o fim do primeiro semestre, referentes ao exercício fiscal de 2006. Em média, eles cresceram 36% sobre o volume distribuído no ano passado, relativo ao ganho de 2005. Os presidentes receberam 25% a mais este ano, ao colocarem no bolso uma média de R$ 313 mil, enquanto os diretores tiveram ganhos de R$ 226,8 mil, 33% acima da média do ano anterior.

No entanto, os mais beneficiados foram os gerentes de primeira e segunda linha, que abocanharam 51% em salários extras, com valores de R$ 58,5 mil e R$ 35,7 mil na média, respectivamente. É o que aponta pesquisa realizada pela consultoria PricewaterhouseCoopers, com 92 empresas das regiões Sul e Sudeste do país, das quais 52% possuem faturamento anual acima de US$ 300 milhões e juntas empregam mais de 400 mil pessoas. O cenário é reflexo dos bons resultados obtidos pelas empresas e do aquecimento de muitos setores, como os de papel e celulose, siderurgia, finanças e petróleo, diante da estabilidade na economia brasileira.

Com a explosão de crescimento de vários mercados e a escassez de talentos, as companhias passaram a adotar práticas bem mais agressivas de remuneração, atreladas aos resultados, analisa João Lins, consultor responsável pelo estudo. "E os bônus tornaram-se peça-chave na retenção dos executivos", afirma. Entre os segmentos da indústria, quem ofereceu bônus mais polpudos foi o de tecnologia da informação (TI), que vive um de seus melhores momentos, mas enfrenta uma escassez de mão-de-obra especializada estimada em 17 mil profissionais.

As empresas de TI concederam este ano a seus executivos (de diretores a presidentes) uma média de R$ 202 mil relativos ao resultado de 2006. "Na briga para segurar talentos, as organizações vêm intensificando sua política de incentivo de curto prazo, a exemplo dos bônus", explica. Logo em seguida, vem o setor de serviços, com um montante de R$ 196 mil, a indústria, R$ 186,5 mil, o químico, R$ 101 mil, o de engenharia, 91,8 mil, o de bens de consumo, R$ 86 mil, o de energia, 71 mil e o de agronegócio, com R$ 69,9 mil em salário extra.

A remuneração variável continua ganhando peso dentro dos pacotes salariais no país, adotada por 85% das empresas ouvidas na pesquisa da Price - seja na forma de bônus ou na participação nos lucros e resultados. Para os níveis executivos, 40% das companhias disseram ter recompensado seus profissionais com o pagamento de bônus, que usam indicadores econômico-financeiros, como o Ebitda - referencial de geração de caixa -, como métrica. "Atrelados apenas aos resultados financeiros, os bônus se tornam instrumentos obsoletos, que dão respostas parciais", diz Lins. Para ele, os bônus precisam estar ligados a mecanismos que criem valor ao acionista e a metas de curto e longo prazos.

Outra boa notícia para o alto escalão: os salários, somando parte fixa e variável, também aumentaram nos seis primeiros meses do ano em relação a 2006. Os presidentes tiveram acréscimos de 10,8%, os diretores, 12,7% e os gerentes de primeira linha 17,2%. Crescimento que superou a inflação acumulada entre maio de 2006 e junho de 2007 - período de lançamento dos resultados das empresas. "A economia em ritmo de expansão tem permitido a criação de novas vagas, a maioria para gerentes, provocando uma valorização desse profissional", observa Lins.

De uma forma geral, esses índices registrados acompanham uma previsão otimista de negócios que aconteceu no ano passado e promete se repetir em 2008, segundo constatou o estudo. Para os próximos 12 meses, a perspectiva de crescimento salarial prevista pelas companhias é de 100% pelas pequenas, de 69%, pelas médias e de 59% pelas grandes. O estudo mostra ainda que o segmento de agronegócios apresentou uma mudança significativa sobre as projeções anteriores.

Se no ano passado, apenas 25% das empresas do setor acenavam com um aumento na remuneração de seus funcionários, em 2007, esse número pulou para 80%. "Apesar da conjuntura desfavorável do câmbio, os investimentos anunciados na indústria de biocombustíveis e o desempenho do setor de commodities deram uma mexida no setor, exigindo um nível de remuneração diferenciada pela escassez de pessoas seniores", analisa Lins.

Além de agronegócios, empresas de outros segmentos prevêem aumentos salariais no período de um ano, com destaque para os de energia (80%), governo (86%) e engenharia (100%). Diante de um mercado altamente aquecido e favorável a novos investimentos, a Price investigou este ano entre as companhias ouvidas quais eram suas projeções quanto ao crescimento dos negócios no período de 12 meses. As grandes estão bem mais otimistas (98%) em relação às médias (89%) e às pequenas (62%) e prevêem crescer no período.

A pesquisa mostra também que a distância entre a remuneração dos executivos do primeiro escalão e do corpo técnico continua se ampliando no Brasil. Em 2007, presidentes e diretores receberam 20 vezes o salário base de um funcionário do "staff", enquanto os gerentes, aproximadamente 4,5 vezes mais. Discrepância que não é vista em outros países, alerta o consultor. "Nos Estados Unidos, onde as estruturas hierárquicas são mais enxutas, essa lacuna é menor".

Quando o assunto é gestão de pessoas, o levantamento da Price mostrou que 47% das companhias para 2007 priorizam o desenvolvimento de lideranças (47%), treinamento e desenvolvimento de pessoal técnico e operacional (46%), gestão do clima (36%) e implantação ou melhoria da gestão de pessoas baseada em competências (35%). "A falta de talentos no mundo inteiro leva as organizações a investir na formação de futuros líderes", ressalta Lins. "Essa é uma tendência global que deve continuar, pelos menos, mais uns cinco anos".