Título: Petrobras e Pemex assinam acordo limitado
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 07/08/2007, Brasil, p. A8

Depois de um longo período de distanciamento na época do governo Fox, Brasil e México pretendem intensificar suas relações comerciais e estabelecer parcerias nas áreas agrícola, energética e de biocombustíveis. Mas a principal parceria entre empresas dos dois países - a associação da Petrobras com a Pemex para a exploração de petróleo em outros países e no Golfo do México - deve ficar muito aquém do que gostariam os brasileiros devido ao rígido monopólio exercido pela estatal mexicana.

O máximo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu ontem, na Cidade do México, onde se encontra em visita oficial, foi assinar um memorando que permitirá a troca de tecnologia entre a Petrobras e a Pemex. O próprio Lula, que se referiu às duas estatais como "musas" reconheceu as limitações do acordo e disse que ele será exercitado dentro das "leis mexicanas". Trata-se de um assunto delicado para os mexicanos. Do lado de fora do palácio presidencial, um pequeno grupo de manifestantes gritava palavras de ordem contra o presidente Felipe Calderón. Algumas faixas pediam sua renúncia. Outros protestavam contra a "entrega" da Pemex.

Segundo o presidente da Petrobras, Sergio Gabrieli, a empresa já está no México, onde produz 1 bilhão de metros cúbicos de gás. "Esse é o modelo possível, não há limitação da legislação mexicana. Essa limitação existe até para a exploração em outros país. Oferecemos participação para exploração, com eles, nos Estados Unidos, aqui na fronteira (Golfo do México)", disse Gabrieli.

Assim, a parceria, no momento, deve mesmo se limitar à pesquisa e transferência de tecnologia. A Petrobras é especialista na exploração de petróleo em águas profundas, enquanto a Pemex "tem reservatórios de basalto, nos quais não temos nenhuma experiência".

O dia do presidente Lula na Cidade do México começou com um café da manhã que reuniu cerca de 500 empresários brasileiros e mexicanos. Ele e Calderón convocaram os empresários a intensificar os negócios bilaterais e os investimentos.

No discurso para os empresários e na assinatura de atos no palácio presidencial, Lula mostrou como o intercâmbio comercial entre os dois países tem crescido nos últimos anos. Ele deu o exemplo de que em 2006 o comércio bilateral alcançou cerca de US$ 6 bilhões - o Brasil vendeu para o México US$ 4,4 bilhões, enquanto os mexicanos exportaram US$ 1,3 bilhão. Em 2002, esse comércio alcançava US$ 2,9 bilhões. O México é o sétimo parceiro comercial do Brasil. Na reunião com os empresários, os mexicanos falaram que é preciso "empatar esse jogo".

Lula citou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) como uma oportunidade para negócios. Disse que o programa prevê investimentos de R$ 504 bilhões até 2010, dos quais R$ 4 bilhões em obras de saneamento, e R$ 106 bilhões em habitação - as contas incluem previsões de investimentos que seriam feitos pelo setor privado. O presidente destacou, ainda, que a Petrobras destinará R$ 228 bilhões à solução de questões da área de energia.

O presidente Calderón também citou o programa de infra-estrutura que desenvolve no México como possibilidade para negócios por parte dos empresários brasileiros.

Para o México, que tem cerca de 84% de suas relações comerciais com os Estados Unidos, interessa a criação de alternativas. "O Brasil pode e deve ser, em meu conceito, a porta de entrada do México no Mercosul, para o qual necessitamos abrir e muito mais rápido mais oportunidades recíprocas de negócio, de investimento e de comércio", disse o presidente mexicano.

Calderón também salientou que, por outro lado, o México conta com uma posição privilegiada para o comércio global e é uma ponte natural para que países, como o Brasil, possam incrementar sua presença nos mercados importantes do mundo, principalmente os Estados Unidos.

Para facilitar o fluxo de empresários e de turistas, foi criado um grupo de trabalho para minimizar os impactos negativos da introdução, em 2005, da exigência de vistos para a entrada nos dois países. O governo mexicano vai passar a expedir vistos com validade para cinco anos. Também uma companhia aérea brasileira será autorizada a operar uma linha direta com a Cidade do México - serviço hoje oferecido apenas pela Aeroméxico.

Foram assinados também protocolos nas áreas de agricultura - o Brasil se compromete a ajudar o México em pesquisa e tecnologias desenvolvidas pela Embrapa, em troca de redução tarifária para exportar carnes de frango, suína e leite - e de biocombustível.

O maior interesse no etanol foi manifestado pelo governo do Distrito Federal, que tem no biocombustível brasileiro uma opção para diminuir a poluição da Cidade do México. Os dois presidentes concordaram que o uso da energia é um tema essencial do século XXI e se comprometeram a procurar diversificar a matriz energética, estimulando o uso de energias renováveis, incluindo biocombustíveis.

Lula e Calderón não trataram de um assunto recorrente nas viagens internacionais do presidente brasileiro: a postulação do Brasil por uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU. Os dois países divergem sobre esse tema. Mas Lula defendeu enfaticamente a reforma da ONU. O presidente brasileiro acha "um absurdo", por exemplo, haver países com direito a veto de uma resolução tomada por maioria.