Título: Superávit no setor automotivo diminui
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 07/08/2007, Brasil, p. A8

Desde que Brasil e México celebraram o livre comércio de veículos em janeiro, as importações brasileiras deste setor cresceram de forma expressiva, enquanto as exportações recuaram um pouco. O movimento foi provocado pela valorização do real, que prejudicou as exportações, e pelo aquecimento da economia brasileira, que provocou um aumento das vendas de carros médios no Brasil, especialidade das montadoras instaladas no México.

O resultado do intercâmbio entre os dois países neste segmento ainda é altamente favorável para o Brasil, mas a distância diminuiu. Em 2000 - quando os dois países estabeleceram as primeiras cotas para a troca de carros sem tarifas de importação - o Brasil vendia 52 vezes mais veículos para o México do que recebia. No primeiro semestre desse ano, já com o mercado livre para veículos em vigor, essa diferença ficou em quatro vezes mais.

De janeiro a junho, chegaram ao Brasil 14 mil carros mexicanos e foram exportados para o México 59,5 mil veículos. No primeiro semestre, o Brasil vendeu US$ US$ 979 milhões para o México no setor automotivo (incluindo peças e outros veículos) e importou US$ 283 milhões. Esse movimento ainda representa um déficit mensal de US$ 116 milhões para os mexicanos, mas ele já é 32% menor na comparação com a perda mensal de 2006.

Entre 2000 e junho de 2007, os acordos automotivos entre os dois países já renderam vendas de 1,19 milhão de veículos do Brasil para o México e de 62,5 mil carros no fluxo contrário, conforme levantamento da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). "É extremamente positivo para os dois países, permitindo verdadeira integração comercial", disse Jackson Schneider, presidente da entidade, ressaltando que o setor automotivo representa mais de 50% do fluxo de comércio entre os países. Para ele, o México é exemplo de como um acordo de livre comércio pode elevar as exportações.

Os mexicanos só começaram a entrar efetivamente no mercado brasileiro no ano passado, quando importar veículos daquele país se tornou parte da estratégia das montadoras. Hoje são comercializados no Brasil oito modelos fabricados no México, entre eles, o Fusion, da Ford, o Jetta, da Volkswagen, o Accord, da Honda, e o Sentra, da Nissan. As importações de veículos mexicanos saltaram de 2.753 unidades em 2005 para 21.711 em 2006, um aumento de quase 700%. Mesmo assim, os carros mexicanos ainda representam cerca de 1% do mercado doméstico brasileiro.

Segundo Alberto Pescumo Filho, gerente-geral da área comercial da Honda Automóveis, as vendas do Accord explodiram em 2006. Subiram de 800 unidades em 2005 para 2.600 no ano passado. "Tivemos o cenário ideal, como o dólar no patamar certo, disponibilidade de veículos e sem concorrência", disse. Esse ano, as vendas do Accord no Brasil devem recuar para duas mil unidades, por conta da disputa com outros modelos, principalmente o Fusion, da Ford.

As exportações brasileiras de veículos para o México atingiram o ápice em 2004, chegando a 219 mil unidades, mas recuaram 6,9% em 2005 para 204 mil. Em 2006, mais uma queda de 6,4%, para 191 mil unidades. Nesse ano, as vendas devem cair outra vez. A General Motors, por exemplo, estima baixa de 20% nas exportações para o México em 2007, por conta da valorização do real, conforme informações da assessoria de imprensa. O México é o principal cliente da GM do Brasil no exterior e recebe os modelos Meriva, Corsa e Astra.

A Honda deve exportar 3,5 mil veículos para o México em 2007, alta de 10% em relação a 2006. A montadora japonesa só chegou ao mercado mexicano com o Honda Fit em 2005. "Já começamos trabalhando com outro patamar de câmbio. Mesmo assim, reajustamos um pouco os preços", diz Pescumo. Ele conta que o mercado mexicano está estabilizado para os carros brasileiros, após o boom inicial.