Título: Em crise, Argentina busca geradores
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 07/08/2007, Empresas, p. B1

A crise de energia na Argentina é um filme que o brasileiro conhece muito bem. Com a experiência de quem passou por um racionamento do insumo em 2001, o Brasil sabe como é difícil manter a indústria e o comércio em funcionamento quando não há megawatts suficientes para todos. Sabe também como é complicado encontrar e pôr em prática soluções de última hora nesses momentos.

É também por ter essa experiência que alguns fabricantes de geradores a óleo combustível no Brasil estão sendo procurados pelas indústrias do país vizinho. E o resultado dessa relação entre oferta e demanda é um bom volume de negócios para a indústria brasileira.

A americana Cummins é um exemplo. Com uma fábrica instalada em Guarulhos (SP), que produz geradores cuja potência varia entre 40 quilowatts (kW) e 400 kW, a filial no país já sente o aumento da demanda. "Neste ano, deveremos vender 3,5 mil unidades, contra as 2,5 mil comercializadas em 2006", afirma Fausto Ferrari, gerente executivo da Cummins Power Generation para América do Sul, o braço do grupo para essa área no país. Em outras palavras, o faturamento dessa divisão no país subirá de US$ 35 milhões para US$ 50 milhões.

Mas Ferrari não está sozinho. Apesar de não ter fechado negócio algum até o momento, o diretor-gerente da multinacional escocesa Aggreko no país, Diogenes Neto, conta que a procura é crescente. "Nós não recebíamos consulta alguma de empresas da Argentina, mas agora tivemos nas últimas três semanas cerca de 12 contatos", conta Neto, acrescentado que a procura parte de fabricantes de pneus, bens de consumo e até automotivo. Especializada em fornecimento de soluções de abastecimento de energia, o negócio da Aggreko é um pouco diferente em relação ao da Cummins. Isso, porque a companhia escocesa aluga os geradores ao invés de vendê-los.

Agora, independentemente da natureza da operação, a procura não é pouca. Tanto que o gerente da Cummins explica que espera vender 800 geradores em 2007 para a Argentina, sendo que já vendeu 400 unidades para o país vizinho até a metade do ano. "Antes do problema de abastecimento de energia, costumávamos negociar cerca de 280 geradores para os argentinos", conta Ferrari.

Mas apesar da forte demanda argentina por geradores da fábrica brasileira, a verdade é que as indústrias de lá não compram apenas da filial local da Cummins. Como o grupo americano espalhou sua produção, as fábricas da Inglaterra e EUA são responsáveis por produzir equipamentos acima dos 400 kW. Já a operação da Índia ficou com a incumbência de manufaturar geradores com potência inferior a 40 kW.

Portanto, Fausto Ferrari afirma que até o momento a Argentina já comprou 1,2 mil geradores da empresa globalmente, o que inclui os 800 do Brasil e 400 das demais operações, como inglesa e indiana. "Essa venda é praticamente toda para o setor industrial", acrescenta Ferrari.

Diante de tamanha demanda, o executivo já admite que a tendência é de alta para 2008. Ferrari avalia que a crise argentina não será resolvida neste inverno, devendo inclusive invadir o verão daquele país. "Temos percebido que falta investimentos em infra-estrutura por lá", avalia.

Com 35 anos de Brasil, a Cummins atualmente tem uma capacidade produtiva de 4 mil unidades por ano. Diante de tamanha demanda, já que a empresa exporta 75% de tudo que produz em Guarulhos, existe a discussão em torno de investimentos na fábrica. Mas a idéia não é ampliar a área de produção, já que a atual capacidade é obtida por meio de apenas um turno. O objetivo, então, é mexer na área de estoque. Análises preliminares mostram que esse setor da Cummins demandaria uma área maior para armazenamento de componentes, mas a decisão somente será conhecida em outubro deste ano.