Título: Bradesco lucra R$ 4 bilhões com serviços, crédito, Arcelor e Serasa
Autor: Silva Júnior, Altamiro
Fonte: Valor Econômico, 07/08/2007, Finanças, p. C10

O Bradesco registrou lucro líquido de R$ 4 bilhões no primeiro semestre, 28% acima dos ganhos dos seis primeiros meses de 2006. Considerando apenas o segundo trimestre, o lucro cresceu ainda mais, com alta de 35%, e ficou em R$ 2,3 bilhões. Aumento das receitas com serviços, expansão do crédito e a venda de ações da Serasa e da Arcelor são os fatores que impulsionaram os resultados, que foram recorde para o período. O retorno sobre o patrimônio líquido médio ficou em 36,3%. No segundo trimestre, foi de 43,3%.

Na avaliação de Márcio Cypriano, presidente do banco, o crédito tem crescido de forma significativa graças à expansão da economia, que não dá sinais de ser interrompida, apesar das turbulências no mercado financeiro global. Por isso, ele continua otimista e até reviu para cima as projeções de expansão da carteira de crédito do Bradesco este ano. A carteira total, que antes tinha crescimento previsto de 20% a 25%, deve se expandir agora a taxas entre 21% e 27%.

O lucro do primeiro semestre do Bradesco foi o maior dos últimos 20 anos entre os bancos privados, de capital aberto, segundo a Economatica. As receitas com prestação de serviços contribuíram com 29%, quatro pontos percentuais a mais do que o mesmo período de 2006. No total, somaram R$ 5,2 bilhões, evolução de 25%.

Em seguida, vieram as operações de crédito, responsáveis por 25% do resultado, frente a 23% no ano passado. No crédito, a carteira total bateu em R$ 130,8 bilhões e cresceu 23%. A surpresa foi o aumento das linhas para pequenas e médias empresas, que cresceram mais que os outros segmentos, com expansão de 26%. O aumento dos repasses do BNDES, de 34%, foi um dos fatores que contribuiu para a melhora dos empréstimos às pessoas jurídicas. Por causa deste aumento, as projeções do segmento estão sendo revistas. O crédito para empresa deve crescer entre 19% e 24%, acima da meta inicial de 17% a 22%. Setores de construção civil, mineração e exportação devem liderar a tomada de recursos.

As projeções para pessoas físicas, segundo Cypriano, foram mantidas, mas ainda estão em patamares elevados: devem subir de 25% a 30% em 2007. No primeiro semestre, tiveram alta de 22%. As operações com cartão de crédito foram as que mais cresceram, com expansão de 67% e volume total de R$ 6,9 bilhões.

Nos cartões, a aquisição da bandeira American Express, em maio de 2006, tiveram impacto significativo. Segundo Cypriano, são vendidos 80 mil plásticos por mês da bandeira, para pessoas de maior nível de renda. Em um ano da aquisição, o número de cartões da Amex passou de 1,2 milhão para 1,6 milhão. Em total de clientes, houve um salto de 250 mil, para 950 mil. "A Amex tem sido uma surpresa bastante agradável", afirma.

A carteira de crédito para pessoas físicas encostou em R$ 50 bilhões, alta de 22%. O financiamento imobiliário registrou aumento de 35%. O Bradesco começou a oferecer linhas de até 25 anos e aposta em maior expansão do segmento, ainda com números modestos no Brasil.

No consignado, o banco optou no final do ano passado em focar na geração própria de empréstimos e não mais em adquirir carteiras de bancos menores. Com isso, a carteira própria cresceu 44%, para R$ 1,8 bilhão. Já os crédito adquiridos caíram 29% e ficaram em R$ 1,3 bilhão.

O consignado tende a ganhar fôlego ainda maior com a conclusão da incorporação das operações do BMC, no segundo semestre. A compra do banco foi aprovada pelo Banco Central na semana passada. Com isso, a carteira do consignado deve aumentar em R$ 600 milhões, chegando a R$ 5,1 bilhões.

O Bradesco fez no segundo trimestre um reforço na provisão para devedores duvidosos. O montante provisionado fechou o mês em R$ 1,2 bilhão, frente a R$ 1,05 bilhão no final de março. O Bradesco tem R$ 1,1 bilhão a mais que o exigido pelo Banco Central em provisões. A inadimplência acima de 90 dias se manteve em 6,2% nas pessoas físicas. A de pequenas e médias empresas teve pequena queda para 3,2%. Para Cypriano, as taxas tendem a se manter nestes níveis. O índice de Basiléia, que mede a capacidade de alavancagem, ficou em 16,1%, acima dos 11% exigidos pelo BC.

O banco também teve receitas extraordinárias que aumentaram seus ganhos em R$ 501 milhões no primeiro semestre. A venda de ações da Serasa para a irlandesa Experian trouxe R$ 395 milhões, já descontado os impostos. O banco também lucrou R$ 234 milhões com venda de papéis que detinha da Arcelor, também em valores líquidos de impostos. Deste total, amortizou R$ 120 milhões do ágio pago por 50% das operações de crédito ao consumidor da Lojas Colombo. Com isso, teve receita líquida de R$ 501 milhões.