Título: Instabilidade aumenta risco dos multimercados e de ações
Autor: Monteiro, Luciana
Fonte: Valor Econômico, 07/08/2007, EU & Investimentos, p. D2

O investidor que ontem de manhã viu o Índice Bovespa em queda de 2,89%, se desesperou e pediu resgate de seu fundo de ação ou multimercados apostando em novas quedas, acabou o dia irritado quando viu o Ibovespa fechar em alta de 0,46%. Isso reforça a recomendação dos analistas que, em coro, dizem ao investidor: não entre em pânico. Eles lembram que ainda há dúvidas sobre a extensão da crise do "subprime" - papéis hipotecários de alto risco americanos - e de que forma ela vai respingar no Brasil. Enquanto isso, é de se esperar uma oscilação muito grande nas cotas de fundos de ações e multimercados.

Dados do site financeiro Fortuna mostram que neste ano, até o dia 2, quinta-feira, R$ 27,482 bilhões ingressaram em fundos multimercados. A categoria registrava rentabilidade média de 10,17% no período para um CDI de 7,12%. Somente nos dois primeiros dias de agosto, mais R$ 709 milhões foram para essas carteiras. O retorno, no período, era de leve queda de 0,03%, enquanto a variação do CDI foi de 0,09%. Mas, com a perda de 3,37% do Índice Bovespa na sexta-feira, os prejuízos certamente serão maiores. Esses números só vão entrar nas cotas divulgadas hoje pelas tabelas do Valor.

É preciso tomar cuidado, mas até agora os indicadores mostram que não há motivos para pânico, diz Rogerio Betti, sócio do escritório de aconselhamento financeiro Beta Advisors. Ninguém sabe quanto tempo a crise vai durar, apesar de os fundamentos do Brasil continuarem bons, avalia o executivo.

Não se deve também avaliar o gestor no curto prazo, alerta Francisco Costa, sócio da Personal Investimentos, escritório de aconselhamento financeiro. Na opinião do executivo, o investidor deve observar se o gestor está cumprindo o mandato do fundo. "Os investidores até o momento estão calmos, até porque têm um resultado acumulado bom e a crise começou há pouco tempo", diz. Para ele, o fato de muitas carteiras terem carência para resgates faz com que o investidor pense mais antes de sacar.

A forte volatilidade dos mercados dos últimos dias fez também com que o investidor rememorasse o quão importante é a diversificação das aplicações. "Quando a bolsa sobe, tudo vai bem, mas é quando ela cai que se vê o risco da concentração", avalia Betti, da Beta. Ele lembra, no entanto, que diversificar é diferente de pulverizar, pois de nada adianta ter vários fundos de ações indexados ou mesmo várias carteiras DI. Os recursos têm de estar em fundos em que a correlação seja baixa.

Mesmo entre os multimercados, as estratégias de gestão são muito diferentes entre si. Os índices calculados pela Arsenal Investimentos mostram que no mês, até o dia 2, os fundos multimercados que adotam o estilo "equity hedge" - carteiras que ganham com arbitragem utilizando ações e seus derivativos - registraram perda média de 0,22%. Em seguida, aparecem as carteiras macro, que buscam ganhar com a tendência dos ativos, com queda de 0,06%, em média. Os fundos trading, em que o gestor busca capturar os movimentos de curto prazo, mudando de estratégia rapidamente, perderam 0,04% no período. Já os fundos de arbitragem - que buscam ganhar com a diferença de preços entre ativos em diversos mercados como juros, câmbio e bolsa - ganham 0,08%.

O conselho para manter a calma serve também para os fundos de ações. Em dois dias úteis de agosto, a categoria registrava perda média de 1,19%, para um Ibovespa em alta de 0,94%, segundo o Fortuna. No ano, até o dia 2, entretanto, os fundos de ações rendiam 25,09% para um índice com ganho de 22,97%. Essa situação deve piorar com os números de sexta-feira, dia 3, mas ainda serão positivos no ano. Os fundos de renda fixa, que podem aplicar em papéis prefixados, tinham rendimento em agosto de 0,04%, retorno inferior ao das carteiras DI, com 0,07%. Mas, no ano, os renda fixa ganhavam 7,10% para 6,77% dos DIs.