Título: BNDES quer mudar modelo de crédito para setor de celulose
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 09/08/2007, Brasil, p. A5

O BNDES quer mudar o modelo de produção financiada de matéria-prima para a indústria de papel e celulose e substituir grandes áreas plantadas de grandes empresas por um sistema de pequenas propriedades fornecedoras às indústria, informou ontem o presidente do banco, Luciano Coutinho. Em reunião com representantes de organização não-governamentais, que cobram maior "democratização" do banco, Coutinho disse concordar com a maioria das demandas dos movimentos sociais e prometeu medidas para aumentar os financiamentos ao Norte e Nordeste.

"Temos de impulsar outro modelo de (plantações de) eucalipto, na pequena propriedade, não na grande propriedade monocultora", defendeu Coutinho, ao responder a perguntas de representantes das ONGs reunidas no Ibase e Rede Brasil sobre Instituições Financeiras Multilaterais. "Estamos abertos a entender e não apoiar esses projetos que vieram do passado e precisam de um novo paradigma de desenvolvimento".

"Evidentemente é um setor eficiente e competitivo, importante para o desenvolvimento do Brasil, mas é preciso conciliar com preocupações ambientais e sociais", disse, à saída, ao ser perguntado sobre os planos para as grandes empresas de celulose. "O que podemos investigar é a possibilidade de agregar um novo modelo de negócios que tenha lugar para a pequena propriedade, não apenas para a grande propriedade", explicou ele.

"Para minha surpresa, é boa a recepção dessa idéia, não é algo que não possa ser cogitado", disse, ao revelar que já discutiu o assunto com executivos das empresas do setor. "São várias dificuldades, mas é algo que, se bem organizado, bem estruturado, pode desonerar empresa de impactar grandes áreas de terra", acrescentou, ressalvando que o BNDES precisa, ainda, "desenvolver um paradigma que seja sustentável" para as mudanças defendidas por ele. Uma alternativa em estudo é o apoio das grandes empresas, emitindo recebíveis (garantias) para produção em pequena escala de madeira destinada à fabricação de celulose e papel.

Apressado, com a agenda atrasada pela boa vontade com que respondeu às perguntas dos dirigentes das ONGs, Coutinho recusou-se a comentar a fusão entre as operadoras de telefonia Brasil Telecom e Oi, com cujos dirigentes já se reuniu, após encarregado pelo governo de discutir a engenharia financeira para criação de um grande grupo nacional no setor. Coutinho alegou que não poderia comentar o assunto, para não afetar ações das empresas no mercado. "Não posso falar, as empresas estão em um momento em que não é recomendável falar, uma das empresas (a Telemar) tem uma operação em andamento (de pulverização de ações)", disse.

Coutinho prometeu maior transparência nas ações do banco e comprometeu-se com as ONGs em criar grupos com participação da sociedade civil para discutir as políticas de financiamento a projetos de etanol, hidrelétricas, saneamento, integração regional e papel e celulose.