Título: Terna avalia linhas de usinas do Madeira
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 09/08/2007, Empresas, p. B8

Não é somente o bilionário projeto para erguer as duas usinas hidrelétricas do Rio Madeira, no Estado de Rondônia, que desperta o apetite dos grandes grupos do setor de energia no país. A necessária construção dos cerca de 2 mil quilômetros de linhas de transmissão, que serão feitos para conectar a potência de 6,494 mil megawatts (MW) das duas usinas ao Sistema Interligado Nacional (SIN), também já mexe com os grandes operadores desse segmento no Brasil.

Uma das primeiras a falar sobre o assunto foi a filial local da italiana Terna. "O projeto dessas linhas de transmissão do Madeira é algo que interessa à companhia", afirma Camille Faria, diretora administrativo-financeira da Terna Participações, ao Valor. A executiva do grupo italiano conta ainda que a expectativa na companhia é que o processo de licitação possa já estar à disposição dos interessados em 2008.

É claro que ainda falta o edital e o detalhamento da licitação desses cerca de 2 mil quilômetros, que na prática conectam Porto Velho (RO) a Cuiabá (MT), mas o fato é que o interesse do grupo italiano é emblemático. "Ainda é preciso ver se o governo federal vai dividir essa extensão em lotes ou se pretende negociar para um consórcio, porque os valores envolvidos não são baixos", completa Camille.

De fato, a diretora da Terna tem razão quanto aos montantes. Estimativas do consórcio Odebrecht/Furnas, que realizou estudos de viabilidade técnica do empreendimento, dão conta de que a construção do já chamado linhão poderá consumir entre R$ 10 bilhões e R$ 15 bilhões. Já para as duas hidrelétricas, prevê-se um investimento de pelo menos R$ 25,7 bilhões, sendo que neste número não está contabilizado as eclusas que a obra requer.

Mas por ora, o objetivo da Terna é fechar a compra da Etau, uma linha de transmissão que passa pelos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Com 188 quilômetros de extensão e quatro subestações de energia, a Etau poderá ter na Terna um acionista com quase 52,6% das ações. A operação ainda não recebeu o sinal verde dos demais acionistas e a expectativa é que tudo esteja finalizado até o fim de setembro. A companhia, neste momento, prefere não dar mais detalhes sobre a aquisição.

Agora, o apetite da Terna é algo que já foi declarado tempos atrás, quando a companhia resolveu fazer um lançamento de units na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Cada unit da empresa contém duas ações preferenciais e uma ordinária. Tanto é assim que a companhia está atenta às diversas oportunidades, inclusive àquelas que serão colocadas em dois leilões do governo federal, previstos para acontecer em outubro e novembro deste ano. Nestes pregões, a intenção do governo é negociar 4,2 mil quilômetros de linhas de transmissão, o que poderá movimentar algo como R$ 5 bilhões.

"O nosso foco é no Brasil, mas a responsabilidade da Terna Participações é para com toda a América Latina", afirma Giovanni Giovannelli, diretor-geral da subsidiária no Brasil. E a empresa não deve sofrer com a falta de recursos. Isso, porque sua relação dívida líquida sobre o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (lajida) cai trimestre após trimestre. Entre maio e julho de 2006, por exemplo, esse indicador era de 3,2 vezes, sendo que no mesmo período deste ano caiu para 1,6 vezes.

Não é apenas este número que apresentou melhora no trimestre. O lucro líquido também subiu expressivamente. Saiu de R$ 27,7 milhões no segundo trimestre do ano passado para R$ 52,6 milhões em igual período de 2007. "Neste aumento, há caixa do lançamento de ações, despesa financeira menor, entre outros", afirma Paulo Seidel, gerente-financeiro da Terna, acrescentando que essas combinações produziram um ganho adicional de R$ 25 milhões entre o segundo trimestre de 2007 e 2006.

Já a receita líquida não teve a mesma sorte. Foi de R$ 122,4 milhões, queda de 4,7% em relação ao segundo trimestre de 2006. E a explicação decorre de alguns fatores, como a contabilização do gasto em pesquisa e desenvolvimento não mais como custo e sim dedutível da receita.