Título: Demanda forte gera abertura de vagas
Autor: Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 10/08/2007, Brasil, p. A3

O aquecimento da produção industrial faz com que as empresas também contratem mais pessoas. Após um período de aumento de horas pagas e de horas extras, o que se vê é a ampliação do número de vagas na indústria. O ritmo é bem mais forte do que o do ano passado, mas ainda mais fraco e concentrado do que o que se viu em 2004, ano em que a indústria cresceu 8,3%.

As perspectivas para os próximos meses são positivas. Segundo a Sondagem Conjuntural da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em julho deste ano 32% das empresas ouvidas planejavam expandir seu quadro de pessoal no terceiro trimestre. No mesmo período de 2006, esse percentual era menor, de 28%.

Os setores de material elétrico e de comunicações, material de transporte e químico são os que mostram as perspectivas mais otimistas para o emprego. Segundo Aloisio Campelo, coordenador do estudo, esta expansão do emprego está ligada à maior força da demanda doméstica.

"A melhora também chegou a alguns setores que antes estavam sofrendo com a concorrência de importados ou de produtos piratas", comenta Campelo. Um exemplo disso é a recuperação do setor têxtil, onde 33% das empresas planejam contratar novos trabalhadores nos próximos três meses. Em julho do ano passado, apenas 5% delas tinham esses planos. Já o ramo de material elétrico e de comunicações está sendo beneficiado pelas indústrias de televisores e rádios. De acordo com a pesquisa, 64% dos empresários deste setor pretendem ter mais gente trabalhando em suas fábricas, sendo que nenhuma empresa planeja demissões. "Elas estão conseguindo colocar a produção no mercado interno", diz o economista da FGV.

Os dados de emprego coletados pela Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) mostraram que em julho houve um crescimento de 0,45% sobre junho, segundo cálculos que já descontam efeitos sazonais. Essa alta representou a geração de 9 mil postos de trabalho. Dos 21 setores pesquisados, 15 mostraram expansão no emprego. No acumulado em 12 meses até julho, a alta do emprego foi de 3%, o que significou 65 mil vagas.

Por conta dos bons resultados nos diversos índices de emprego e da revisão da estimativa de crescimento da economia de 4,5% para 4,7%, Fábio Romão, economista da LCA Consultores, acredita que neste ano o saldo entre admitidos e demitidos com carteira na indústria de transformação chegará a 330 mil. É um número 32% superior ao visto em 2006, quando ficou em 250 mil. Ainda assim, não alcançará o desempenho de 2004, ano em que a indústria registrou a criação de 505,6 mil vagas formais.

A projeção para o total deste mercado de trabalho é de 1,451 milhão de novos postos, o que representaria um incremento de 18% em relação a 2006. A ressalva a ser feita ao crescimento do emprego industrial, segundo Romão, é a desigualdade de desempenho entre os subsetores.

Dos 12 subsetores pesquisados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), seis aumentaram o volume de contratação no primeiro semestre de 2007, na comparação com igual período de 2006. Nos outros seis subsetores, porém, o ritmo foi bem parecido com os dos começos de ano de 2005 e 2006, considerados modestos.

Romão acredita que a demanda doméstica continuará estimulando a produção industrial, que, por sua vez, exigirá novas contratações. Assim como Campelo, ele lembra que os setores que estavam indo mal nos últimos meses, mostram recuperação. É o caso da indústria calçadista, que já acumulam 13 mil novos postos entre janeiro e junho, mais do que o dobro dos 6,3 mil abertos no mesmo período de 2006.