Título: Falta consenso em debate tucano sobre programa de desenvolvimento
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 10/08/2007, Política, p. A8

Com o objetivo de estruturar um novo programa econômico, o PSDB iniciou ontem a busca por uma convergência interna entre seus principais formuladores da área. Um evento fechado realizado em São Paulo reuniu os principais economistas do partido, que, embora tenham convergido em vários aspectos, ficaram longe do consenso.

De defensores do monetarismo puro aos desenvolvimentistas clássicos, a pauta do encontro se baseou no futuro da política macroeconômica nacional. Houve ali a opinião comum de que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) manteve todos os pilares traçados na gestão do ex-presidente Fernando Henrique. Os pontos de discordância, porém, apresentaram-se nas discussões sobre a manutenção ou alteração deste modelo.

O ex-ministro da Fazenda Pedro Malan afirmou que o governo federal teve "bom senso" ao manter a política econômica, mas ressaltou que falta eficácia em sua condução. "Não existe política macroeconômica de esquerda ou de direita. Existe política macroeconômica mal ou bem feita, com mais ou menos competência. E o que falta hoje é um componente novo, chamado eficácia", afirmou, segundo relato de um dos presentes. Malan disse ainda que o ex-ministro Antonio Palocci teve bom senso ao não levar com ele os expoentes do pensamento econômico petista.

O economista José Roberto Afonso defendeu a necessidade de um rigoroso ajuste fiscal. De acordo com ele, o ajuste hoje é feito somente por Estados e municípios, que devem seguir os limites exigidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Para ele, a União também deveria se enquadrar nesses limites fiscais, já que, apesar de a receita do país subir continuamente, os gastos também só aumentam. Disse também ser favorável à criação de empresas estatais responsáveis pelos grandes projetos do país.

Durante as apresentações, Luiz Carlos Mendonça de Barros -escalado para palestrar à tarde- pediu a palavra. Disse que o aparente consenso do ajuste fiscal e do corte de gastos encontra uma barreira: onde seriam feitos os cortes, uma vez que a maior parte do custo do país está atrelada a gastos sociais? O economista disse que o modelo atual, com acumulação em excesso de reservas, fortalece o país externamente, mas tem prazo de validade até 2010. "O país fica pagando isso com imenso superávit e sem qualquer desenvolvimento de sua infra-estrutura." Para ele, após 2010 começariam a aparecer efeitos negativos dessa opção, em especial o aumento do déficit público e problemas de logística. Assim, defendeu uma mudança na postura do partido, que, caso contrário, segundo ele, estaria condenado ao "fracasso".

O ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco disse concordar com Mendonça, sem discordar de Malan. E acrescentou que "não dá para pensar em desenvolvimento sem inflação." Já Luiz Carlos Bresser Pereira acha que o PSDB, de uma maneira geral, apóia o modelo atual sem ter motivos para isso. Ele defendeu o que classificou de "novo desenvolvimentismo", que teria como pilares o centro-esquerdismo e o nacionalismo. "A inserção do país no mundo deve ser pilotada por conceitos que isolem o interesse nacional. Não falo do desenvolvimentismo à antiga, mas algo que tenha um Estado indutor do dinamismo econômico sem as mazelas do Estado desenvolvimentista antigo. O mercado clássico não tem por si só como dinamizar a economia", disse, conforme afirmou um dos presentes. Seu posicionamento, porém, foi amplamente criticado e tido como "voz única" dentro do partido.

A necessidade de simplificação do sistema tributário nacional foi unânime. Os participantes vislumbraram um sistema basicamente composto pelo Imposto sobre o Valor Agregado (IVA) e Imposto de Renda (IR).

Qualquer que seja a opção econômica a ser escolhida pelos tucanos, uma preocupação constante no debate foi como passar essas informações à população.

"Não somos uma academia de ciência. Somos um partido político. É preciso saber intermediar nossas teses com a população", disse o ex-senador Geraldo Mello (PSDB-RN). Para FHC, o partido precisa falar claro, sem se complicar: "Os que não falam complicado são os que o povo gosta. O Lula fala simples. Se ele não falasse de uma maneira convincente não seria presidente".

Na segunda-feira, seminário semelhante ocorrerá em Belo Horizonte, mas desta vez aberto ao público. O governador mineiro Aécio Neves (PSDB) pretende, na ocasião, exibir seu modelo de gestão pública -- que tirou Minas Gerais de um déficit orçamentário de R$ 2,3 bilhões em 2003 - para lideranças tucanas. Já confirmaram presença na rodada mineira, que será realizada no hotel Mercure, FHC, Malan, o presidente nacional da legenda, senador Tasso Jereissati, e o senador Marconi Perillo. "Minas está se transformando em vitrine de gestão pública, uma verdadeira marca tucana de administração eficiente", comentou o presidente do diretório estadual, deputado federal Nárcio Rodrigues, um dos cabos eleitorais do governador mineiro dentro do partido. Segundo ele, cerca de 40 prefeitos mineiros vão se filiar ao PSDB na oportunidade. (Colaborou Ivana Moreira, de Belo Horizonte)