Título: Corregedoria investigará compra de rádios por Renan
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 10/08/2007, Política, p. A7

O corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), vai abrir investigação para apurar a denúncia de que o presidente da Casa, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), teria usado "laranjas" para a compra de rádios e de um jornal em Alagoas. Tuma também quer apurar denúncia publicada pela "Folha de S.Paulo" de que Renan teria assinado decreto legislativo para uma nova concessão de rádio à empresa JR Comunicação, que, segundo a revista "Veja" desta semana, pertence ao próprio senador, por intermédio de "laranjas".

Tuma afirmou que pediu ao Ministério das Comunicações cópias dos processos das concessões concedidas pelo presidente do Senado. "Estou pedindo as cópias para analisar porque é uma denúncia. Temos que fazer uma apuração independentemente de qualquer outra decisão para saber realmente se tem algum documento que comprove indicativos de qualquer tipo de provas", afirmou.

O corregedor admitiu que a investigação é "complicada", uma vez que Renan seria uma espécie de sócio-oculto das empresas. Mas, disse estar disposto a convocar os diretores das rádios que seriam os supostos "laranjas". Apesar de os indícios serem graves, na avaliação de Tuma é cedo para prejulgar o pemedebista.

Tuma disse que, ao final das investigações, encaminhará seu relatório ao Conselho de Ética do Senado para auxiliar na apuração das denúncias. O DEM e o PSDB já protocolaram representação para que Renan seja investigado pela denúncia do uso de "laranjas" na compra das rádios.

Mesmo sob fogo cruzado, Renan aposta que será absolvido pelos senadores em plenário caso o Conselho de Ética recomende a sua cassação. Segundo interlocutores do pemedebista, ele aposta no bom relacionamento que mantém com grande parte dos senadores.

Ontem Renan subiu à tribuna para se defender das acusações de ter beneficiado a cervejaria Schincariol e de manter "laranjas" como donos de uma empresa de comunicação de sua propriedade. Ele anunciou que enviou ao Conselho de Ética um documento em que a Schincariol desmente as denúncias da revista "Veja": "A Schincariol desmonta a falsa imputação da revista de que eu teria atuado em favor da empresa", disse Renan, em referência a uma suposta ajuda em uma quitação de uma dívida junto ao INSS.

Renan atacou também o que chamou de "campanha persecutória e sem provas" da revista "Veja" e voltou a fazer denúncias sobre a venda da TVA, empresa do Grupo Abril, para a empresa espanhola Telefônica: "A empresa agride os interesses brasileiros, estapeia o mercado e rasga definitivamente a Constituição brasileira. Trata-se de um método sub-reptício reprovável. A editora que vive a enxovalhar pessoas sem provas é a mesma que recorre a métodos pouco ortodoxos".

Renan disse que já havia mandado a denúncia sobre a venda da TVA a grupo estrangeiro ao Ministério Público e que, ontem, encaminhou o caso a entidades nacionais e internacionais. O presidente do Senado afirmou que enviou ofício à PF e ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que "abortará essa sombria operação". A operação pretende, segundo Renan, passar ilegalmente à Telefônica da Espanha, 100% das ações da TVA, 86,7% da Comercial Cabo e 91,5% da TVA Sul.

Em nota, a Editora Abril afirma que é " fruto do desespero do senador " Renan Calheiros a acusação feita por ele sobre a transação entre a TVA e a Telefônica. A Telefônica não quis se manifestar. "A Editora Abril informa que as revelações de 'Veja' sobre o senador Renan Calheiros foram rigorosamente apuradas e, portanto, as confirma integralmente. As aflições e problemas do senador derivam de suas condutas (...). É fruto do desespero do senador a acusação leviana de que ainda haja alguma coisa a verificar na transação entre a TVA e a Telefônica", diz a nota.

Quanto à denúncia sobre rádios que controlaria, Renan avisou que fez um requerimento formal para que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) repasse todos os votos dos conselheiros que trataram da concessão, para que se defina a propriedade da empresa. "Aproveito para reiterar que os senhores senadores podem contar com minha absoluta correção e que minha defesa está amparada em provas. Não sou dado a roubos e não serei algoz de ninguém", disse.

Mais cedo, sobre as denúncias de que teria autorizado uma nova concessão de rádio para a empresa JR Radiodifusão, que segundo a revista "Veja", pertence ao próprio senador, Renan apenas explicou que as concessões são aprovadas por comissões técnicas do Congresso, e que ele "apenas despacha". Disse que, como presidente do Senado, tem a prerrogativa de apenas sancionar decisões tomadas por órgãos técnicos da Casa - sem agir diretamente para favorecer nenhuma concessão: "O presidente do Senado, despacha o expediente, ele informa às pessoas do que acontece. Não é o Congresso, enquanto Congresso, que aprova, são as comissões técnicas".

Renan afirmou também que já enviou à Polícia Federal (PF) os primeiros lotes dos cheques depositados em sua conta que comprovariam as operações de venda de gado, apresentadas pelo senador como fonte de rendimentos para o pagamento de pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem teve uma filha. Renan é acusado de ter as despesas pessoais pagas por um lobista. "Os senadores podem contar com a minha absoluta e integral correção. Verão que minha defesa está amparada em provas. Não serei algoz de ninguém. Prefiro ser vítima a ser autor de injustiça", afirmou.

Logo depois do discurso de Renan, o senador Wellington Salgado (PMDB-MG) afirmou que a Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT), por ele presidida, deverá convocar representantes das empresas envolvidas para que eles expliquem a transação. (Com agências noticiosas)