Título: Fatecs acompanham expansão do interior e diversificam cursos
Autor: Maia, Samantha
Fonte: Valor Econômico, 10/08/2007, Especial, p. A22

"Se a senhora me apontar cinco tecnólogos com a formação em desenvolvimento de software, eu contrato. Se houver mais gente, eu contrato também", disse recentemente um empresário da área a Laura Laganá, diretora superintendente do Centro Paula Souza, instituição estadual que administra as faculdades de tecnologia (Fatecs) em São Paulo. É dessa forma que parcerias com o setor privado começam, até evoluírem para a

elaboração de um novo curso e à criação de uma Fatec.

A demanda crescente de empresas por novos profissionais especializados a partir de 2004 - ano em que o Produto interno Bruto (PIB) do país cresceu 5,7% - fez com que os repasses do orçamento estadual ao Centro Paula Souza evoluíssem de R$ 244 milhões em 2004 para R$ 435 milhões este ano. O valor a ser investido em material permanente passou de R$ 18 milhões em 2004 para R$ 29,7 milhões em 2007.

"Nunca tivemos uma evolução tão boa dos repasses, o que mostra que o governo decidiu apostar no Centro", diz Laura. O aumento de verbas permitirá a criação de 22 faculdades ao longo dos próximos quatro anos, o que ampliará a rede das atuais 30 unidades para 52 espalhadas pela região metropolitana e interior paulista. Hoje, estudam nas Fatecs cerca de 20 mil alunos.

A ampliação, além de numérica, tem um perfil de diversidade, pois novos cursos estão sendo incorporados aos 31 atualmente oferecidos, seguindo a expansão econômica do interior e os novos pólos em formação, seja no agronegócio, seja na indústria.

Capão Bonito, no Sudoeste paulista, a 222 quilômetros da capital, deverá receber, no próximo ano, a primeira turma de tecnólogos em silvicultura. Esse profissional atuará no processo de cultivo da madeira, uma função já existente. No entanto, os planos de expansão traçados pelo setor exigem que as empresas tenham profissionais especializados, diz Roberto Vidal, diretor de Logística Integrada e Operações Florestais da Votorantim Celulose e Papel (VCP), parceira na criação dessa Fatec.

A participação da VCP, após a definição do curso pelo Centro Paula Souza, será investir os R$ 3,5 milhões previstos para implementação do projeto. "No limite, entraremos com todo o investimento, mas estamos falando com outras empresas do segmento para que também sejam parceiras", diz Vidal. Não há um levantamento preciso de quantos novos profissionais o mercado precisa hoje, mas Vidal garante que o tecnólogo será muito requisitado, inclusive fora da região. "Há um potencial de contratação em todo o mercado ligado à madeira", diz.

O percentual de jovens de 18 a 24 anos com ensino médio concluído e a ausência de ensino público superior na cidade são critérios para a instalação de uma Fatec, mas a certeza de contratação dos alunos é determinante na hora do Centro investir na formulação de um novo curso, explica a diretora da instituição. O salário médio de um tecnólogo é de R$ 2.100, segundo levantamento do Paula Souza, e o nível de contratação chega a 92% dos formados.

O anúncio, em 2003, de que dez novas usinas de cana-de-açúcar se instalariam na região de Araçatuba acendeu a preocupação dos empresários com uma futura falta de mão-de-obra especializada. Há três anos, a União dos Produtores de Bioenergia (Udop) já havia feito parceria com o Centro Paula Souza para a profissionalização de seu quadro de funcionários por meio da implementação de cursos técnicos em açúcar e álcool. Com o boom de investimentos no setor, a intenção agora é formar tecnólogos. "Queríamos profissionais ecléticos, que entendessem da área agrícola e de biodiesel", diz Antonio Cesar Salibe, presidente-executivo da Udop.

Das conversas entre a Udop e o Paula Souza surgiu um curso de tecnólogo em bioenergia, com ênfase em açúcar e álcool, cuja primeira turma deve iniciar aulas no primeiro semestre de 2008 em uma unidade da Fatec em Araçatuba. "Nós precisamos formar 100 mil profissionais em todos os níveis, pois há demanda, e ela é crescente com a perspectiva de crescimento do setor", diz ele.

A intenção é que futuramente sejam abertas outras linhas para o curso, como uma turma com ênfase em biodiesel. As usinas da região disponibilizarão seus espaços para as aulas práticas e estágios. A idéia é levar esses cursos também para o município de Sertãozinho, com a construção de outra Fatec.

Este ano foram inauguradas três unidades, nas cidades de Presidente Prudente, com curso de agronegócio, Santo André, de autotrônica (eletrônica de automóveis), e Itaquaquecetuba, de informática para gestão. Em setembro começarão as primeiras turmas de mecânica em Mogi Mirim, de tecnologia da informação em São Caetano do Sul, de logística e transporte em Guarulhos e de agronegócio em Jales. Todas elas levam em conta a vocação econômica da cidade, sendo Itaquaquecetuba a única exceção, escolhida por ser um município mais pobre e sem ensino superior público.

São Paulo já recebeu mais uma unidade, na zona Leste, com cursos tradicionais, pois, como diz a própria diretora, "na capital há demanda para todas as áreas". Diadema, onde há um pólo de cosméticos com cerca de 70 empresas, sediará uma Fatec com curso de tecnologia em cosméticos. "É um setor que tem crescido de 10% a 13% ao ano, num país que é o terceiro maior mercado consumidor do mundo", diz Joel Fonseca, secretário de Desenvolvimento Econômico e Emprego de Diadema.

Fonseca explica que desde que o pólo foi criado, em 2002, pensou-se em investir em qualificação na região. Nas suas visitas às empresas, o secretário notou que a maioria delas mandava seus funcionários para cursos de especialização no exterior, já que no país não há cursos superiores na área. "Por isso vimos que esse curso seria muito importante para o desenvolvimento do setor", diz ele. A prefeitura doará um terreno e está sendo discutida ainda a hipótese das empresas apoiarem com investimento ou disponibilização de espaço e equipamentos para o curso.

De 2004 para cá foram criadas 18 Fatecs, já resultado de parcerias com a iniciativa privada. No ano passado, foi inaugurado o curso de tecnologia em plástico na cidade de Mauá, numa Fatec já existente, com participação de empresas químicas, como a Suzano Petroquímica, a Polietilenos União e a PQU. Agora há planos de levar esse curso também para Botucatu. O município de Taubaté deverá receber uma unidade com o curso de autotrônica, e Franca e Jaú poderão sediar uma Fatec para formar tecnólogos na área de calçados.