Título: Carlismo da Bahia começa a enfrentar primeiras deserções
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 13/08/2007, Política, p. A8

Menos de um mês depois da morte do senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA), começam a surgir as primeiras mudanças de posições entre seus seguidores políticos, que antes mesmo do desfecho do chamado carlismo da Bahia já vinham dando sinais de reestruturação. A alteração que parece mais definida poderá ser a saída do ex-governador e senador César Borges do partido Democratas (DEM).

Adversário político do também ex-governador Paulo Souto dentro do DEM, César Borges sente-se desconfortável na legenda depois que o desafeto assumiu a presidência da legenda na Bahia. "O projeto da atual executiva local do DEM é excludente. Só quero ficar em um partido que tenha espaço para suas lideranças, sobretudo para mim", afirmou Borges ao Valor.

Desde a mudança de nome de PFL para Democratas (em março), Souto aproximou-se mais do deputado federal José Carlos Aleluia. Juntos, conseguiram tirar a chefia da sigla do grupo mais ligado a ACM. A disputa pela cúpula do DEM na Bahia foi acirrada. O cacique havia indicado o deputado federal Jorge Khoury, tido como ligado a Souto e nome que poderia receber o apoio de ambos os lados.

O deputado Aleluia, porém, lançou-se candidato contra Khoury. Em negociação demorada, que não teve a anuência de Borges, Khoury e Aleluia deixaram a disputa e Souto foi eleito. "Foi uma situação quase imposta. Não fui procurado para opinar", informa César Borges.

No desfile do dia 2 de julho, data comemorativa importante do Estado, a Independência da Bahia, o senador não apareceu.

Desde então, Borges e Souto passaram a trocar farpas pela imprensa local. "O carlismo começou a rachar a partir da derrota de Paulo Souto para Jaques Wagner na eleição para o governo. Souto virou as costas para ACM e venceu a disputa pela Executiva. Mas ACM, ainda assim, era um ponto de aglutinação. Com sua morte, o carlismo começa a implodir", avalia um político do DEM baiano.

César Borges, então, começou a procurar outras legendas. Ele e ACM Neto chegaram a conversar com o PDT. O neto de ACM poderia mesmo sair da legenda. Mas desistiu, por duas razões. A primeira é o acordo para se tornar líder da legenda no próximo ano. Disposto a concorrer à Prefeitura de Salvador em 2008, seria importante para o parlamentar ser candidato na condição de líder.

A segunda razão que prende ACM Neto ao DEM é a incerteza jurídica sobre seu mandato. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu, há poucos meses, que o parlamentar que deixar sua legenda deve perder o mandato.

Borges, porém, manteve-se firme na idéia de deixar o DEM. Recentemente, PR, PP e PRB o convidaram para fazer parte de seus quadros. "Não teria nenhuma dificuldade em qualquer desses partidos", diz Borges. Já houve também algumas conversas preliminares com o PSDB.

O vice-presidente José Alencar (PRB) enviou recado por meio do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) de que gostaria de ter o baiano em suas fileiras. O vice-presidente gostaria de ter o apoio de Borges para a candidatura do apresentador de televisão Raimundo Varela à Prefeitura de Salvador.

O senador reconhece que a morte de ACM pode acelerar sua saída. "Eu nunca faria um movimento sem conversar com ele. Eu esperava que o senador melhorasse de saúde para resolvermos os impasses internos. Mas ele não melhorou", lamenta.

Borges não revela quais, mas um grupo de parlamentares já o procurou para deixar a legenda. Pelo menos três deputados federais baianos poderão seguir os passos do senador: Khoury, Luiz Carreira e Cláudio Cajado. No plano local, um nome de expressão já teria conversado com o senador: o ex-presidente da Assembléia Legislativa do Estado Carlos Ricardo Gaban.

Borges tem um dilema importante. PR, PRB, PDT e PP são da base de apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem Borges é ferrenho oposicionista. Com o PSDB, o problema seria local. Os tucanos apóiam o governo do petista Jaques Wagner no Estado. "Não há solução perfeita", reconhece Borges. Levam vantagem na disputa o PR e o PP. Fonte do PR chegou a dizer ao Valor que "está tudo certo" para o senador se filiar nos próximos dias.

O próprio senador é reticente e diz não ter pressa para decidir. Na sexta-feira, Souto o procurou em seu escritório em Salvador. Propôs uma trégua na imprensa. Nesta semana, haverá outro encontro entre os dois ex-governadores. "Não poderia deixar de ouvir o que ele tem a dizer, já que eu sempre disse que estava insatisfeito mas deixava aberta uma pequena possibilidade de conversa. Seria incoerente não recebê-lo", diz Borges.

As diferenças entre os dois, no entanto, são enormes. "O partido está perdendo densidade. E sem o governo local, não tem mais um poder aglutinador", analisa o senador. Ele reconhece que a morte de ACM é fator determinante: "Ele aglutinava as forças do Estado também. Agora, só muita habilidade poderia evitar a dispersão por que passa a legenda".