Título: Risco de emergentes oscila menos
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 13/08/2007, Caderno Especial, p. F4

A crise no mercado de hipotecas nos Estados Unidos vem mostrando que a dívida dos países emergentes tem sido considerada parte da "classe" dos ativos de baixo risco, que possuem o selo de grau de investimento ou quase, e não mais parte integrante do mercado de crédito de mais alto retorno e risco. Essa é a conclusão de Kenneth J. Singleton, Ph.D. em economia pela Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, e professor de finanças na Universidade Stanford.

"É claro que há muita diferenciação entre os emergentes", afirmou ele, por telefone, em entrevista ao Valor. Há países com déficit em conta corrente e com risco político considerado mais elevado do que o Brasil, por exemplo, e países que já são grau de investimento. Mas, como "classe" de ativos, por causa de um fortalecimento nas reservas internacionais, os emergentes têm apresentado movimento de prêmios de risco de crédito não tão "dramático" como nas crises de 2002, 2003 e 2004, afirma.

Singleton, que fará palestra em Campos de Jordão, no 3º Congresso Internacional de Derivativos, promovido pela Bolsa de Mercadorias & Futuros nos dias 22, 23 e 24, vem analisando justamente os prêmios de risco de crédito dos países emergentes nos últimos cinco anos. Olhou a correlação entre eles, outros prêmios de risco de crédito, o mercado de ações e indicadores de volatilidade.

Concluiu que, em um mercado financeiro cada vez mais integrado, esses prêmios de risco de crédito tendem a se movimentar na mesma direção e com velocidades semelhantes, de acordo com a disposição para assumir riscos dos investidores internacionais e não apenas de acordo com o crédito ou os fundamentos específicos de cada um dos países.

O tamanho da liquidez internacional e a disposição para a realização de estratégias conhecidas como "carry-trade" - tomar dinheiro emprestado em uma moeda para realizar investimento em outra assumindo o risco do câmbio - também determinam variações conjuntas nos prêmios dos emergentes, diz ele. "A integração dos riscos nos mercados é cada vez maior e estratégias de diversificação ou de proteção que desconsideram as interconexões entre os mercados são fadadas ao fracasso", afirmou.

Singleton observou os prêmios de risco de crédito de 20 países, com atenção especial para a Coréia, Turquia e México. Preferiu usar os prêmios dos swaps de crédito (credit default swaps, ou CDSs), que são "mais limpos do que os dos títulos, pois não têm distorção por causa de prazos de vencimentos distintos, liquidez e cláusulas diferentes." Os swaps de crédito são derivativos que negociam justamente o prêmio de risco de crédito de uma entidade de referência. São contratos-padrão que podem ter o vencimento combinado entre quem compra proteção e quem vende.