Título: Gol reduz pela terceira vez projeção anual
Autor: Osse, José Sergio
Fonte: Valor Econômico, 10/08/2007, Empresas, p. B2

A Gol rebaixou ontem, pela terceira vez neste ano, suas projeções financeiras e operacionais para o fechado do ano. Mais uma vez, como em abril, o caos aéreo foi o motivo para a redução. A única projeção mantida foi a de aumento na oferta unitária nos aviões. Ela foi conservada apesar da perspectiva de uma taxa de ocupação menor e menores margens.

A previsão da Gol é obter receita líquida total entre R$ 5,5 bilhões e R$ 5,7 bilhões no fim do ano. Em junho quando revisou pela última vez suas estimativas, a empresa esperava uma receita de R$ 6 bilhões. Reflexo dessa redução, a empresa também diminuiu sua previsão de lucro por ação no fim de dezembro da faixa entre R$ 3,70 e R$ 4,20 para um valor entre R$ 3,00 e R$ 3,50.

"Não há outros fatores para a revisão das projeções, apenas o caos aéreo mesmo", disse ontem o diretor financeiro da companhia, Richard Lark, quando questionado se algum outro problema além desse contribuiu para a mudança nas projeções da Gol.

Além de prever receita e lucro menores, a Gol ainda reduziu sua projeção de taxa média de ocupação. Ela passou de 72% para entre 68% e 70%, apesar de a previsão de aumento na oferta unitária (medida por assentos disponíveis por quilômetro) ter se mantido em 80% para o ano. Com isso, a expectativa da Gol é de que sua margem operacional no fim do ano seja entre 12% e 15%, e não de 18% como vinha prevendo anteriormente.

Uma nota positiva nas novas projeções da empresa é a de que o custo unitário por assentos disponíveis por quilômetro também ficará menor do que ela esperava ao fim do ano. Se antes previa um custo unitário de R$ 0,081, agora a expectativa é de que ele seja de R$ 0,08 no fim de dezembro.

A companhia aérea informou ontem que no segundo trimestre registrou lucro líquido consolidado de R$ 157,074 milhões, ou 60% acima dos R$ 98,169 milhões somados entre abril e junho do ano passado. A receita operacional líquida total ficou em R$ 1,150 bilhão, superando os R$ 844,028 milhões do mesmo período em 2006.

A companhia lembrou que os resultados consolidados incluem a VRG Linhas Aéreas, que opera a marca Varig, cuja aquisição foi completada em 9 de abril deste ano.

"O segundo trimestre de 2007 apresentou inúmeros desafios e oportunidades que devem resultar em mudanças positivas para a indústria de aviação brasileira como um todo", informou a Gol em nota. Pelos padrões contábeis americanos, a companhia teve um prejuízo líquido consolidado de R$ 35,371 milhões nos três meses até junho, o que implica uma reversão em relação ao montante apurado um ano atrás, quando ganhou R$ 106,685 milhões.

"O prejuízo foi consequência da incorporação dos resultados da VRG, de um ambiente de baixos 'yields' no mercado doméstico, atrasos imprevisíveis e cancelamentos inesperados que suprimem a demanda e também de uma alta exposição do assunto na imprensa, reduzindo as taxas de ocupação", informou a companhia aérea.

As mudanças na malha aérea brasileira realmente deverão ser seguidas de aumento nas tarifas. Esse reajuste, porém, não deve ser "significativo". Essa é a opinião de Constantino Júnior, presidente da Gol, sobre as medidas determinadas pelo Conselho Nacional de Aviação (Conac) para desafogar o aeroporto de Congonhas. "O aumento das tarifas vai depender de como ficará a nova malha. Talvez não haja nada além de uma diferenciação de preços entre Congonhas e Guarulhos", disse ele.

Segundo Constantino, a retirada de vôos de conexão e escalas de Congonhas vai reduzir a produtividade da Gol - e o mesmo se aplica às concorrentes - naquele aeroporto. Assim, o custo deve aumentar, sendo repassado ao preço do bilhete. "Mas não será nada significativo", afirma.

Em média, os valores para se chegar no "destino São Paulo" deverão ficar próximos dos que são praticados hoje. Só que, para passageiros que quiserem a conveniência de usar o aeroporto central, a tarifa será maior.

Sobre a decisão do Conac de manter em Congonhas apenas rotas para capitais num raio máximo de duas horas de vôo, Constantino diz que ela não será muito significativa. Grande parte, "mais que dois terços", da receita da empresa no aeroporto vem de vôos que se encaixam nesse perfil. "Além disso, as medidas impactam toda a indústria. O que vemos é que vai haver uma mudança no fluxo de passageiros em todas as empresas", disse. "Mas isso não vai impactar no volume de passageiros ou no nível dos serviços prestados só porque deixou de ir para Congonhas e foi para Guarulhos. Na verdade, pode até melhorar, pois o aeroporto tem mais estrutura."

Há um grupo dedicado a reorganizar a malha da Gol e a atender às determinações do Conac dentro do prazo de 60 dias. No momento, eles estão apenas redesenhando as rotas, mas o presidente da empresa não descarta que novas oportunidades possam sair dessa reavaliação.