Título: País tem situação sólida, diz Mantega
Autor: Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 10/08/2007, Finanças, p. C2

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reconheceu que a turbulência financeira internacional ficou mais aguda ontem, mas preferiu destacar que a situação do Brasil é sólida, que não vai haver impacto relevante na taxa básica de juros e que a expectativa de inflação não preocupa.

"De fato, houve um nervosismo maior, mas ele não chegou ao Brasil", afirmou Mantega. Ele ponderou que sempre afeta um pouco a taxa de juros, mas o Brasil está muito sólido para enfrentar uma situação como essa. Disse que o mercado não está preocupado com o país. "Temos dinheiro de sobra, e as reservas são bastante elevadas. Se compararmos as reservas de quase US$ 160 bilhões com as de US$ 50 bilhões do ano passado, estamos US$ 100 bilhões mais resistentes a esse tipo de crise", disse.

Ontem, disse, a turbulência internacional ficou um pouco mais aguda porque alguns fundos ligados aos recursos imobiliários americanos deixaram de fazer pagamentos. Há uma cadeia de instituições financeiras que vão desde os financiamentos diretos até os refinanciamentos, a chamada securitização. Aí entram os bancos americanos que emprestaram diretamente e os que deram o crédito em cima de outro crédito (securitização). "Fica um efeito dominó. Todos começam a querer sair desses papéis e desses ativos", comentou.

Nesse cenário, a taxa de juros sobe no mercado secundário e alguns se desfazem do "carry trade", que é tomar dinheiro emprestado num país com juro baixo para aplicar num outro com juro mais alto. Com o nervosismo, há também uma diminuição do carry trade do iene em outras moedas porque a moeda japonesa está se valorizando. Com isso, faltou liquidez no mercado internacional. Faltou dinheiro no mercado e o Banco Central Europeu colocou 100 bilhões de euros e o Fed também colocou US$ 24 bilhões para que os bancos fizessem suas operações.

Mantega garantiu que os mercados continuam olhando com segurança para o Brasil e que não houve um movimento de venda de títulos brasileiros. Se essa situação internacional persistir, disse, a tendência é a redução dos juros americanos.

Outro fator de tranqüilidade, segundo Mantega é a inflação futura. Ressaltou que o IPCA-15 saiu bem (0,24%). Há uma pressão de alimentos causada pelo leite mas, por outro lado, há desaceleração nas tarifas de energia elétrica. "Na média, estamos bem e a perspectiva para o final do ano continua abaixo de 3,8%. A projeção de 12 meses atrás era pior que essa. Não vai haver repercussão dessa turbulência internacional", afirmou.