Título: Verba para o social é investimento, afirma Lula
Autor: Taciana Collet
Fonte: Valor Econômico, 21/01/2005, Brasil, p. A2

Ao lançar ontem um novo mecanismo de fiscalização do programa Bolsa-Família, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que destinar recursos a programas sociais não é gasto, mas investimento. Segundo ele, é muito difícil ao pobre ter acesso ao dinheiro público. "Quando se fala em emprestar R$ 10 bilhões para um grupo econômico para um investimento, que é importante, a gente fala em investimento. Quando se fala em dar R$ 10 para um pobre, a gente fala em gasto, não em investimento", afirmou Lula em solenidade no Palácio do Planalto. "Cinqüenta centavos para uma política de combate à pobreza muitas vezes tem mais repercussão, tem muito mais gente contra, do que quando se discute R$ 5 bilhões para ajudar uma outra coisa qualquer." Em defesa do programa de transferência de renda, Lula ressaltou que o "investimento" feito pelo governo ao beneficiar uma família carente trará muito mais retorno ao Estado do que boa parte dos investimentos governamentais. "Se essas crianças concluírem o ensino fundamental e chegarem à universidade e se prepararem para o mercado de trabalho, elas trarão benefício e conhecimento para nós, que serão impagáveis." Neste ano, estão previstos R$ 6,5 bilhões para o programa Bolsa-Família no Orçamento da União. No ano passado, foram investidos R$ 5,3 bilhões - repassados a 6,5 milhões de famílias. A partir de agora, o Ministério Público, a Controladoria-Geral da União (CGU) e o Tribunal de Contas da União (TCU) vão atuar em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome para fiscalizar a aplicação dos recursos. Com a Rede Pública de Fiscalização, lançada ontem, haverá intercâmbio de informações e atividades de capacitação, como treinamentos para o cadastro e implantação dos conselhos gestores do programa. "Nenhuma instituição criada para fiscalizar o bom funcionamento da máquina pública pode ser vista como adversária ou como um entrave", ressaltou Lula. "Nós sempre achamos que vão fiscalizar os outros e não a nós, e, quando vêm fiscalizar a gente, não é bom. Então, nós queremos o seguinte: fiscalizem, por favor, fiscalizem." Ao discursar, Lula criticou o cadastro das famílias carentes herdado do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. "Não tínhamos cadastro, tínhamos um monte de endereços, um monte de nomes e gente não sabia se era aquela pessoa que precisava."