Título: Palocci diz que não fará "populismo cambial
Autor: Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 21/01/2005, Brasil, p. A3

O ministro da Fazenda, Antônio Palocci, defendeu ontem a política econômica do governo, incluindo o aumento de juros, as elevações tributárias criadas com a Medida Provisória (MP) 232 e a liberdade cambial. "Estamos muito seguros de que a nossa política é a adequada e não vamos fazer populismo cambial", disse o ministro após uma cerimônia no Palácio do Planalto. "Vocês precisam observar que a política do Banco Central reage ao mal maior que se chama inflação, que pode de fato prejudicar o processo de crescimento de longo prazo", disse. Ele afirmou que não tem como prever quando os juros começarão a cair, mas que essa questão tem de ser analisada levando em conta a inflação. Segundo Palocci, não se deve dar tanta atenção às futuras decisões do Conselho de Política Monetária (Copom). "A pressão inflacionária está longe de ser causada apenas pelos preços administrados, seria bom se fosse". Ele entende a preocupação dos empresários e da sociedade com o aumento de juros, mas disse que só pode responder a essa "angústia" com crescimento econômico. "No ano passado conseguimos o maior crescimento em dezoito anos e o maior crescimento na história da indústria paulista com nossa política." Palocci afirmou que no ano passado recebeu as mesmas críticas que chegam neste ano e que o tempo comprovou que ele está correto. "As preocupações hoje demonstradas já foram demonstradas no passado recente e nos meses que se seguiram conseguimos ver que não era bem assim, não era tudo aquilo que os críticos diziam. Pode ser que uma hora eles (os críticos) tenham razão, mas vamos sempre observar, estamos muito seguros que a política (econômica) é adequada", afirmou. O ministro da Fazenda defendeu a política tributária do governo, voltando a reforçar que a União mantém o compromisso de não aumentar a carga tributária. "Só podemos ver a evolução da arrecadação quando tivermos os números do PIB, mas temos um compromisso com o país, já reafirmado diversas vezes, que não permitiríamos que a carga tributária fosse superior àquela observada em 2002", disse. Ele acredita que mesmo com o crescimento real de 10,62% da arrecadação no ano passado - recorde em R$ 322,555 bilhões -, a carga tributária estará inferior à observada no último ano de mandato de Fernando Henrique Cardoso. "Em 2003, apesar das vozes contrárias, mostrou-se com os números que a carga tributária caiu. Em 2004, apesar de todas as avaliações apressadas, nós vamos verificar, quando o número do PIB sair, que a carga tributária deve ficar abaixo de 2002, tudo indica isso." Ele defendeu a arrecadação recorde com algumas mudanças, como a nova sistemática da Cofins e a tributação sobre produtos importados, e lembrou que devolveu parte do imposto pago a mais em alguns setores que podem contribuir para o desenvolvimento, como bens de capital, agricultura e consumo de baixa renda. "Tomamos 21 medidas (de desoneração) que já estão trazendo dados positivos, como o aumento dos investimentos três vezes maior que o crescimento da renda", disse. Palocci rebateu as críticas que o governo vem recebendo em relação aos aumentos tributários embutidos na MP 232, editada para corrigir a tabela do Imposto de Renda das pessoas físicas. A MP, entre outras coisas, amplia a base de cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e o Imposto de Renda para prestadores de serviço e produtores agrícolas. "Não posso crer quando dizem que uma determinada mudança que está em um grande conjunto, como é a questão do lucro presumido (na CSLL), pode significar aumento de preços para algum setor, vamos encarar com mais serenidade e com clareza essas contas e não vamos valorizar declarações desse tipo, que não encontram o mínimo respaldo nos dados reais", disse. O ministro comemorou a situação externa do país e também rebateu as críticas à política cambial, à uma sobrevalorização do real com prejuízos para as contas externas. "Não vamos fazer populismo cambial, esse governo não vai ficar segurando câmbio em um determinado valor para obter resultados de ocasião", disse, afirmando que o governo tem o câmbio flutuante como política definida. Ele não descartou a possibilidade de cortes no Orçamento de 2005. "Vamos avaliar, recebemos há poucos dias o Orçamento, vamos analisar as receitas, o que foi feito (em 2004) e vamos fazer, na verdade, uma administração do Orçamento", disse. As receitas foram aumentadas em cerca de R$ 16 bilhões, no Orçamento aprovado pelo Congresso, e é praticamente certo de que o governo terá que contingenciar o Orçamento em mais de R$ 10 bilhões. O ministro afirmou que está otimista para 2005. "Tenho certeza de que teremos mais um ano de crescimento consistente, todos os indicadores são muitos favoráveis e continuam assim no início deste ano e não temos motivo para pensar que um ponto ou outro da política monetária vai nos colocar em uma rua de dificuldades", disse.