Título: Marcopolo critica MP 232 e diz que mudanças vão elevar preço dos fretes
Autor: Marta Watanabe
Fonte: Valor Econômico, 21/01/2005, Brasil, p. A3

O vice-presidente da fabricante de ônibus Marcopolo, José Antonio Fernandes Martins, prepara-se para uma difícil negociação nos próximos contratos com suas prestadoras de serviço. Segundo ele, para a Marcopolo, o impacto maior da MP nº 232/2004 será no custo no frete, já que as transportadoras deverão repassar para seus preços ao menos parte da elevação de carga tributária prevista para as prestadoras de serviço. O aumento médio nos custos do transporte de carga é calculado em 2,71% pelo próprio segmento. Martins participou ontem de reunião sobre a MP entre empresários do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) e o presidente do PFL, o senador Jorge Bornhausen (SC). O senador disse que, além da ação judicial apresentada ao Supremo Tribunal Federal contra a MP, o partido deverá propor emendas à medida. As emendas deverão tratar da correção em 17% da tabela progressiva de Imposto de Renda (IR) e também a supressão dos artigos que devem provocar aumento de carga tributária para as empresas, como a elevação de 32% para 40% da base de cálculo do IR e da CSLL para as prestadoras de serviço que estão no lucro presumido. O PFL quer eliminar também as novas previsões de retenção na fonte, a tributação das variações cambiais nas participações acionárias do exterior e as restrições ao Conselho de Contribuintes. O Ciesp sugeriu uma tentativa de negociação com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para prorrogar o prazo para opção entre lucro real e lucro presumido pelas prestadoras de serviços. O prazo para a opção deve se encerrar em 15 de fevereiro. O Ciesp sugere prorrogação de 60 ou 90 dias enquanto o Congresso discute a MP. Isso porque, com a nova tributação, muitas prestadoras deverão avaliar qual a melhor forma de pagar IR. O presidente do Ciesp, Cláudio Vaz, acredita que as empresas não terão condição de repassar o custo tributário. "Não há demanda suficiente para o repasse, já que a renda está caindo num momento em que os preços administrados sobem", acredita. O resultado, diz Vaz, deverá ser a redução de margem de lucro ou a informalidade. Além de comentar as medidas tributárias, o vice-presidente da Marcopolo, José Antonio Fernandes Martins, fez críticas à política de juros do governo. Para ele, a alta taxa da Selic provoca a queda do dólar, fator que deve "massacrar os exportadores". "Para as exportações atuais não há saída porque as empresas já estavam com seus esquemas comprometidos. Mas já há muitos exportadores trabalhando quase no prejuízo com o câmbio atual", diz Martins. "Se o dólar permanecer baixo, o nível atual de exportação talvez dure mais um ano. Caso não haja expectativa de subida, o exportador terá que buscar outros caminhos." Na Marcopolo, conta ele, cerca de 55% da produção é exportada. "Estou intensificando meu programa de internacionalização, levando meus investimentos para fora." A tendência, diz ele, é a internacionalização. "Em vez de mandar ônibus completos diretamente do Brasil para a China, por exemplo, a idéia é mandar o ônibus de Portugal para a China, quase rodando." No ano passado, a Marcopolo produziu 15,6 mil ônibus no grupo. Em 2005 a produção deve subir para 16,5 mil.