Título: Inflação vai levar BC a subir os juros
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 11/01/2011, Economia, p. 13

CONSUMIDOR IPC-S da primeira semana de janeiro chega a 0,92%, bem acima da variação de 0,72% de igual período em dezembro. Banco Central fica sem saída a não ser aumentar o arrocho

O Banco Central (BC) não vai ter escapatória. Diante da expectativa do mercado de uma inflação cada vez mais alta e dos preços dos alimentos e serviços, captados pelos mais variados índices, que teimam em continuar subindo, o Comitê de Política Monetária (Copom) terá que aumentar a taxa básica de juros (Selic) já na primeira reunião do ano, marcada para a semana que vem.

¿O Banco Central vai enfrentar o desafio de subir os juros. Não tem outra alternativa¿, disse o economista-chefe da SulAmérica Investimento, Newton Rosa. Para o analista, a inflação vai permanecer pressionada nos próximos meses, devido principalmente à alimentação e aos serviços, com destaque para a educação e o transporte urbano.

Esses itens ajudaram a puxar o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) da Fundação Getulio Vargas (FGV). Influenciado principalmente pelo comportamento de hortaliças e legumes, que subiram 4,55%, o indicador avançou 0,92% na primeira semana de janeiro, bem acima da variação de 0,72% de dezembro. Comportamento diferente teve a prévia do Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M). Como os preços no atacado têm um peso maior no IGP-M, a primeira prévia de janeiro registrou alta de 0,42% frente a uma elevação de 0,83% no mesmo período de dezembro. As informações parecem contraditórias, mas não são.

¿No IGP-M, a alta dos produtos alimentícios foi de 0,88%. Só que essa alta foi contrabalançada pelo peso dos demais componentes do índice¿, explicou a economista do Santander Tatiana Pinheiro. Embora a tendência, a médio prazo, seja que os valores do atacado em queda beneficiem o consumidor, os índices que captam os preços finais mostram que vários itens que não entram no IGPM vão continuar pressionando a inflação para cima, como aluguel, condomínio, escola e, principalmente, alimentos, uma vez que os fatores climáticos não estão nada favoráveis.

Projeção A expectativa de alta foi detectada pela pesquisa Focus, que o BC faz semanalmente com cerca de 100 analistas de mercado, divulgada ontem. Os especialistas elevaram, mais uma vez, a projeção para a inflação do ano. A média das estimativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que serve como base para o sistema de metas, passou de 5,32% para 5,34%, bem acima do centro do objetivo fixado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para este ano e o próximo, de 4,50%. É a quinta alta seguida. Para 2012, a previsão continua justamente em 4,50%.

Os analistas do mercado financeiro mantiveram as previsões para o comportamento dos juros. Eles estimam que a Selic subirá 0,50 ponto percentual na reunião que acontece em 18 e 19 de janeiro, a primeira sob o comando do novo presidente do BC, Alexandre Tombini. Ao que tudo indica, o encontro marcará o início da trajetória de alta da taxa no governo Dilma Rousseff. Com esse aumento, ela passará dos atuais 10,75% ao ano para 11,25%.

A aposta na elevação em 0,50 ponto percentual em janeiro é uma unanimidade entre os economistas. As equipes do Banco Santander, do BES Investimento e da SulAmérica Investimento acreditam que esse será o movimento do Copom. A divergência acontece mais à frente, ou seja, no que diz respeito ao tamanho de todo o ciclo de aperto monetário. O Santander, por exemplo, acha que a alta persistirá até o mês de julho, quando a taxa básica de juros chegaria a 13%. Na avaliação dos demais, a Selic para de subir quando alcançar 12,25%.

PARA SABER MAIS Cobrança indevida

A Aneel reajustava as contas anualmente, com base na demanda de energia do ano anterior, exceto nos períodos de revisão tarifária (a cada quatro anos). Como o consumo aumentava, a arrecadação das tarifas crescia proporcionalmente. Mas o volume arrecadado a mais não foi repassado ao governo como impostos, pois a tributação era calculada sobre a demanda passada. O excedente foi para o caixa das concessionárias.

A agência reguladora reconheceu a falha, corrigiu-a, mas decidiu que o sistema de ajuste não poderia retroagir. Na prática, isso significa que as concessionárias não precisam ressarcir os consumidores. Na avaliação da Aneel, a aplicação retroativa do novo sistema não tem ¿amparo jurídico¿. Para os deputados, contudo, a devolução é legal e evita o enriquecimento indevido das distribuidoras de energia elétrica.