Título: Lula quer Ciro Gomes no PMDB para facilitar reforma ministerial
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 26/01/2005, Política, p. A5

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva continua a trabalhar pela filiação do ministro Ciro Gomes, da Integração Nacional, ao PMDB, um fator que facilitaria a o complicado xadrez da reforma ministerial. Em conversa ontem com o líder do PMDB e futuro presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e com o atual presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), Lula perguntou se tinham evoluído as conversas entre os dirigentes da legenda e o ministro. Ciro Gomes e a economista Maria da Conceição Tavares entraram na sala em que Lula e os pemedebistas se reuniram por quase três horas. O PPS tomou a decisão oficial de deixar a base do governo e o presidente da legenda, Roberto Freire (PE), pressiona Ciro a se licenciar ou a desfiliar-se do partido. O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, também participou da conversa ontem. Lula disse que era necessária a presença de Dirceu porque gostaria de tratar "dos espaços do PT" no primeiro escalão, sinalizando mais claramente que algum petista será removido da equipe. Para os pemedebistas, ficou a impressão de que toda a reforma já está desenhada na cabeça de Lula. O presidente foi categórico: a reforma ministerial não sai antes da eleição para as presidências da Câmara e do Senado, que serão realizadas no dia 14 de fevereiro. Lula também informou que dará um ministério de "maior capilaridade" ao PMDB, ou seja, com mais recursos para investimentos pulverizados em Estados e municípios, o que agrada aos municípios. Os ministérios que mais se encaixam nesse perfil são Cidades e Integração Nacional. Calheiros informou a Lula que já conversou com Ciro Gomes e que as negociações não são simples, até porque os governadores Blairo Maggi (Mato Grosso) e Eduardo Braga (Amazonas), ambos do PPS, também cogitam filiar-se ao PMDB. Segundo Renan Calheiros, essa primeira conversa teria ocorrido há 30 dias. "Disse ao presidente Lula que, se preciso, vou repetir o convite (para Ciro se filiar ao PMDB)", afirmou Calheiros. "Se o ministro quiser vir, nos honraria muito. O presidente disse que ele (Ciro) é um dos políticos com mais futuro no país", acrescentou o líder do PMDB. Outro problema que precisa ser contornado para a filiação de Ciro Gomes é a resistência do ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, também cearense. Ele e Ciro disputam espaços políticos no Ceará. Eunício Oliveira tem pretensões de disputar o governo do Ceará, plano que também faz parte do projeto político dos aliados de Ciro, como o prefeito de Sobral, Cid Gomes. O senador Calheiros ponderou que a participação do PMDB no ministério não pode ser feita considerando uma filiação ainda não concretizada, tanto de Ciro Gomes quanto da senadora Roseana Sarney (PFL-MA). A pefelista vai se desfiliar do PFL para compor a equipe de Lula. Está em curso uma negociação para que se filie ao PMDB. Lula convidará Calheiros e o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), para uma nova conversa, possivelmente na próxima semana, para tratar do ministério a ser oferecido à ex-governadora. Para evitar novos conflitos com o PFL, Calheiros enfatizou que a senadora "nunca disse que se filiaria ao PMDB, e que não está na cota do partido (na reforma) porque não é pemedebista". A ampliação da aliança com o PMDB passa pela realidade nos Estados. Calheiros confirmou que, na conversa, Lula também conversou sobre o futuro político do ex-governador e embaixador Itamar Franco. Lula empenha-se para levar o pemedebista ao PT, garantindo a ele a vaga para disputar o Senado. Isso facilitaria uma reeleição do governador tucano Aécio Neves, que tem um pacto de cooperação com o PT. Durante a longa conversa, Lula analisou com Sarney e Renan Calheiros alguns cenários de disputa para 2006 nos Estados. A idéia é minimizar os focos de conflito entre PT e PMDB. "Conversamos sobre a realidade política eleitoral de alguns Estados", admitiu o líder do PMDB. De acordo com o relato do pemedebista, o presidente está convencido de que esse não é o melhor momento para fazer a reforma ministerial. A nomeação de novos ministros e a saída de outros pode provocar descontentamentos na base aliada, que se refletiriam na disputa e prejudicariam o candidato oficial do PT à presidência, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP). O petista está em plena campanha. O governo acha necessário ampliar o entendimento com o PMDB para assegurar o máximo de votos na legenda a Greenhalgh. Só que ontem, o presidente nacional da legenda, Michel Temer, e o ex-governador Anthony Garotinho anunciaram que o partido vai liberar a bancada e não recomendará o voto a Greenhalgh. Sarney e Renan prometeram trabalhar e ajudar o governo e o paulista.