Título: Serra diz que normaliza pagamentos em 3 meses
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 21/01/2005, Política, p. A5

O pagamento dos fornecedores e dos prestadores de serviço será normalizado somente daqui a "dois ou três meses", afirmou ontem o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), em entrevista ao "SPTV", da TV Globo. Representantes dos setores prejudicados com a falta de pagamento que pode chegar a R$ 2,15 bilhões da gestão passada reclamam que funcionários não recebem desde agosto e ameaçam greve. Ontem, em nova audiência da equipe de Serra com fornecedores na sede da prefeitura, o representante da associação de vigilância e segurança de São Paulo, José Adir Loyola, afirmou que muitos funcionários não recebem desde agosto. "A dívida da prefeitura com o setor deve chegar a R$ 50 milhões. Os funcionários não receberam 13º , nem fundo de garantia. Se não receberem o salário de dezembro, pode acontecer uma greve". No setor de limpeza e conservação de ruas, representantes sindicais também reclamaram que estão sem receber desde agosto e estimam dívida entre R$ 31 milhões e R$ 35 milhões." Apesar da garantia de Serra de saldar a dívida, os secretários de Finanças, Mauro Ricardo Costa, o de Negócios Jurídicos, Luiz Antonio Marrey, e o de Subprefeituras, Walter Feldman não detalharam a forma para saldar a dívida deixada pela gestão Marta Suplicy (PT), nem um cronograma. Segundo Mauro Ricardo Costa, o pagamento dos serviços prestados em 2004 não será feito neste primeiro momento. Apenas serão feitos os pagamentos referentes a serviços realizados a partir de 1º de janeiro. "Tem que ter cuidado para o passado não contaminar o presente." Em caso de greve, Costa foi contundente: "Se tiver greve, só vamos pagar pelos dias trabalhados." O secretário de Finanças pediu "tolerância" aos empresários. "Para quem já trabalhou cinco meses sem receber, esperamos que tenham um pouco de tolerância com o novo governo". Mas, entre os empresários, o clima não era de muita paciência. Com cerca de R$ 750 milhões a receber, o setor da construção civil não concorda com descontos no pagamento. O presidente do Sindicon, Gilberto Parra, pede correções ao montante devido: "Não concordamos com renegociação com descontos. Queremos o pagamento com acréscimo dos prejuízos." Alguns setores já chegaram a paralisar os serviços, como os funcionários do Programa Saúde da Família, que estão sem receber desde dezembro. Serra culpou a gestão de Marta pelos atrasos. "De dívida para pagar tem perto de R$ 2 bi e deixaram cerca de R$ 300 milhão", disse depois de um almoço com o presidente do Tribunal de Contas do Município, Antonio Carlos Caruso. Segundo nota divulgada pela secretaria da gestão Marta, Serra "esforça-se em desviar a atenção dos compromissos assumidos em campanha". Dos R$ 593,7 milhões de empenhos cancelados em 2004, a prefeitura já recebeu reclamações de 10% dos credores. Os fornecedores têm até dia 31 deste mês para pedir o pagamento pelos serviços realizados. Ontem, a Camargo Corrêa reclamou R$ 7,5 milhões cancelados em agosto de 2004, da obra do Complexo do Jurubatuba. Sem recursos disponíveis para pagar os credores, segundo o governo, a prefeitura anunciou na quarta-feira o congelamento temporário de 100% dos recursos previstos no Orçamento de 2005 - R$ 1,9 bilhão - para investimentos.