Título: Bush promete apoiar dissidentes de todas as tiranias no mundo
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 21/01/2005, Internacional, p. A7

O presidente George Bush iniciou ontem seu segundo mandato dizendo que o objetivo de seu governo é levar a liberdade e apoiar a democracia a todo mundo. Bush procurou evitar a retórica de guerra, dizendo que o "fim da tirania" não necessariamente será atingido "pela força das armas", mas pela influência americana no mundo. Bush afirmou que "a sobrevivência da liberdade em nossa terra depende cada vez mais do sucesso da liberdade em outras terras. A maior esperança para a paz no mundo é a expansão da liberdade em todo mundo". Num discurso idealista e em alguns pontos conciliatório, Bush disse que os EUA vão se apoiar dissidentes de regimes autoritários. "Todos que vivem na tirania e desesperança podem saber: os Estados Unidos não vão ignorar sua opressão ou perdoar seus opressores. Quando vocês exigirem sua liberdade, estaremos com vocês". O presidente afirmou que vai usar o relacionamento diplomático para pressionar por reformas. "Vamos encorajar a reforma de outros governos deixando claro que o sucesso de nossas relações vai requerer tratamento decente de seus povos." Bush disse que dirá a chefes de Estado que, para representar seus povos, os governantes devem confiar neles. Ele não citou nenhum país em seu discurso, e quais países serão escolhidos para a ""promoção da democracia" é uma incógnita. Na sabatina no Senado, a secretária de Estado Condolleeza Rice citou como países "tirânicos" o Irã, a Coréia do Norte, Mianmar, Cuba e Belarus. Também condenou como não democrático, apesar de eleito, o governo de Hugo Chávez, da Venezuela. A frase mais provocativa de Bush foi uma citação do presidente Abraham Lincoln: "Aqueles que negam a liberdade aos outros não a merecem para si próprios. E sob a lei de um Deus justo, não podem mantê-la por muito tempo." Como o contingente militar americano já está sendo usado no limite de sua capacidade no Iraque e no Afeganistão, é difícil imaginar que Bush queira continuar usando a força para promover as mudanças desejadas em outros países. O vice-presidente Dick Cheney, porém, disse em entrevista nesta semana que a alternativa militar contra o Irã não está descartada. A dúvida é se o critério democrático aplicado aos países considerados inimigos, como Irã e Cuba, será usado também para países com os quais os EUA têm boas relações diplomáticas e comerciais, como China e Arábia Saudita. No discurso, Bush apelou para que jovens "sirvam a uma causa maior" para "aumentar não só a riqueza, mas o caráter da nação". Depois de um primeiro mandato marcado pelo unilateralismo e pela invasão ao Iraque que provocou grandes divisões com aliados europeus, Bush disse que os Estados Unidos "confiam nos conselhos e dependem da ajuda" de países amigos- sem citar diretamente a Europa. O discurso também citou a "influência" dos EUA como uma arma para ajudar os "oprimidos", sinalizando para maior importância dada à diplomacia. Sem citar nominalmente o Iraque, Bush pediu paciência à população, cuja maioria desaprova a continuidade da ocupação. "Pedi a todos paciência na difícil tarefa de dar segurança ao país. (...) Nosso país aceitou obrigações que são difíceis de cumprir, e seria desonrado abandoná-las." As menções à agenda de reformas econômicas nos EUA foram rápidas, num contexto de "terminar de consolidar a liberdade nos Estados Unidos", aumentando o número de pequenos negócios e propriedade imobiliária. A cerimônia de posse em frente ao Capitólio foi assistida por uma multidão composta em grande parte por eleitores de fora do estado, trazidos em caravanas de ônibus. Mulheres em casacos de pele ou vestidas de vermelho dos pés à cabeça (o vermelho é a cor do partido republicano) e homens de chapéu de vaqueiro eram figuras comuns nas áreas mais restritas da cerimônia. Apesar da grande segurança, manifestantes conseguiram acesso às fileiras mais próximas e fizeram protestos durante o juramento e durante o discurso, gritando "Pare a Guerra" ou dando as costas para o palco montado no terraço do Capitólio. A maior parte deles foi levada pela segurança. A caravana do presidente também enfrentou protestos no trajeto até a Casa Branca. O ato foi pacífica, com cartazes principalmente, e o número de manifestantes foi pequeno em relação ao público total. A secretária Condoleeza Rice e o governador da Flórida, Jeb Bush, estiveram entre os mais aplaudidos. Os ex-presidentes democratas Jim Carter e Bill Clinton foram recebidos friamente. Apesar de ter prometido unir o país em seu primeiro mandato, Bush inicia o segundo com um dos índices de popularidade mais baixos para presidentes nesta condição, e divisões profundas no eleitorado. "Temos divisões conhecidas, que precisam ser curadas para que possamos ir em frente em grandes causas. E eu trabalharei com boa fé para tentar curar essa divisão."